terça-feira, 30 de março de 2010

Adeus, mestre Armando Nogueira

RIO (AE) - Um dos criadores do “Jornal Nacional”, da TV Globo, Armando Nogueira morreu ontem pela manhã, aos 83 anos, em decorrência de um câncer no cérebro que o acometia desde 2007. Ele estava em casa, no bairro da Lagoa, Zona Sul do Rio, acompanhado por enfermeiros e ainda recebeu a visita do filho, Armando Augusto, chamado às pressas pouco antes das 7h. “Nos últimos três anos, eu passei a ser pai do meu pai. Ao longo da vida, construímos uma relação de amizade. Ele era um grande mestre”.

Natural de Xapuri, no Acre, Armando veio para o Rio com 17 anos, formou-se em Direito e iniciou sua carreira de jornalista em 1950, no “Diário Carioca”. Depois, trabalhou nas revistas “Manchete” e “O Cruzeiro” e no “Jornal do Brasil”. Na década de 90, foi colunista do jornal “O Estado de S.Paulo”. Diretor de jornalismo da TV Globo de 1966 a 1990, fez parte de uma geração expoente de cronistas esportivos, ao lado de Nelson Rodrigues e João Saldanha. “Armando Nogueira deixou a marca de seu talento excepcional por onde passou: no jornalismo impresso, na crônica esportiva e, para nós, muito especialmente na televisão”, disse João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.

Apaixonado por aviação, futebol e notadamente pelo Botafogo, Armando escreveu dez livros, todos sobre esporte. O mais conhecido, “Na Grande Área”, reúne crônicas publicadas no “Jornal do Brasil” e recebeu elogios de Otto Lara Resende e Luís Fernando Veríssimo. “Descobria-se ali que textos sobre futebol também podiam ser bonitos, criativos, líricos, cômicos e - o supremo teste de valor literário - compiláveis”, definiu Veríssimo, no posfácio do livro.

Armando Nogueira cobriu 15 Copas do Mundo desde a sua estreia no “Diário Carioca”, em 1950, e seis Jogos Olímpicos. Era um bom frasista e descreveu Garrincha como o “anjo das pernas tortas”. Foi um dos precursores dos debates esportivos na TV e levou para a Globo, em 1966, a “Grande Resenha Facit”, criada na TV Rio. Armando participava das mesas redondas com comentários muitas vezes inflamados e polêmicos, mas fazia questão de vestir terno e gravata para passar imagem de isenção e credibilidade.

Até o ano passado, Armando mantinha o fôlego para os debates esportivos no Sportv e na Rádio CBN. Foi, aos poucos, vencido pelo cansaço e pelo avanço da doença. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) estabeleceram luto de três dias, e o Botafogo prestou homenagem com um minuto de silêncio antes do jogo de ontem contra o Boavista, pelo Campeonato Carioca.

Armando recebeu a última homenagem em um Maracanã vazio, silencioso, que exibia hoje em seus telões as grandes frases daquele que era considerado um “poeta” do jornalismo esportivo. Seu corpo, velado ao lado das bandeiras do Brasil, dos estados do Rio e do Acre e do Botafogo, será sepultado hoje, ao meio-dia, no Cemitério São João Batista.

Nenhum comentário: