Há 20 anos, o mundo via abrir-se a “cortina de ferro” que o polarizava em dois conflitantes sistemas políticos: o capitalismo do Oeste e o comunismo do Leste. Em 9 de novembro de 1989, por meio de uma revolução pacífica, caía por terra o Muro de Berlim - erguido em 13 de agosto de 1961 para separar a República Federal Alemã (RFA), sob influência capitalista - dos Aliados, orientados pelos Estados Unidos - da República Democrática da Alemanha (RDA) sob a tutela da comunista União Soviética. Embora o fato seja costumeiramente interpretado como um divisor de águas na política mundial, naturalmente citado como um marco da derrocada do socialismo, quem viu de perto o acontecimento trouxe na bagagem para o Brasil detalhes que extrapolam os óbvios desdobramentos políticos do processo.
Nascido em 1966, na Berlim Ocidental, “por sorte”, como ele mesmo descreve, o alemão Martin Mahn, ainda tem descontada de seu Imposto de Renda a taxa de reconstrução da “Berlim russa”, cobrada pelo Governo. Ao ilhar um lado de Berlim e rejeitar investimentos capitalistas, o oriente teria acumulado notório atraso. “O estrago foi gigante, tanto que até hoje a reestruturação não foi finalizada”, frisa Martin.
Apesar de não enxergar com descrédito o emprego de sistemas socialistas, citando a China como exemplo de país onde o sistema funciona, garante que o que existiu na parte leste de Berlim “não foi um regime político, mas uma ditadura pior que a instaurada no Brasil (entre 1964-1985)”.
Assessor do Consulado alemão no Recife, aos 42 anos, ele vê nas comemorações dos 20 anos da queda do muro uma oportunidade de redescobrir a Berlim oriental, e afirma perceber que, na sua cidade natal, “o capitalismo engoliu o comunismo”. Esse processo desenrolado na Alemanha, em particular, para ele, passa, talvez equivocadamente, a sensação de que o regime de esquerda tenha assinado atestado de fracasso no mundo todo.
“Na China funciona, por exemplo”, faz o contraponto. Em Berlim, no entanto, ele lamenta que as teorias marxistas tenham sido deturpadas, transmutadas em repressão extrema. “Nasci com minha família dividida. Meus avós moravam na parte oriental. Eu nunca vi meus avós, comunicávamos só através de cartas. Já tinha me conformado que aquela fronteira iria existir para sempre. Hoje, repensando vejo que quem venceu foi a liberadade de viver numa vida humana”, narra Martin, minimizando mais uma vez o aspecto político.
Além de ter proibido o contato com os parentes, Martin reclama que todas as correspondências eram vigiadas pela Alemanha oriental. “Eles abriam as cartas. Mandávamos dinheiro para ajudar e era sistematicamente roubado. Faltava, simplesmente frutas, no lado oriental. Era um milagre consegui fazer chegar porque os pacotes eram abertos. Na verdade, economicamente a Alemanha oriental implodiu”. (Folha de Pernambuco)
domingo, 8 de novembro de 2009
Lembrança de um muro que caiu
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