O começo do vício é sempre parecido. Primeiro é o consumo de maconha, depois vem a cocaína. O crack é o próximo passo. Ele não escolhe cor, gênero, classe social ou religião. Com poder avassalador, invadiu a sociedade, quebrou regras, transpôs limites e escravizou milhares de pessoas. Confira agora, nesta segunda parte da série de reportagens sobre o crack, todo o processo que envolve o vício e suas consequências para o usuário.
À um mês, o funcionário público Pedro*, de 20 anos, já andava estranho, chegando tarde da noite, perdendo o horário de seus compromissos no dia seguinte. Os cobradores de dívidas chegavam à porta da residência, enquanto ele apresentava um comportamento mais silencioso, calado mesmo. Embora as mudanças fossem latentes, vistas a olho nu, o jovem negava que pudesse estar havendo algo de errado. Em verdade, aqueles eram indícios de um problema que saía dos noticiários e tomava a vida do jovem, de seus familiares, e ninguém naquele lar simples conseguia enxergar.
Na semana passada, a empregada doméstica Laura*, de 59 anos, materializou um medo de muitas mães. Recebeu, de uma só vez, uma sequência de duras notícias. A primeira ela ouviu, fechou os olhos e respirou fundo: o filho Pedro* havia perdido o emprego. Com as mãos já tremendo, recebeu a segunda: ele foi flagrado roubando no ambiente de trabalho. Com os olhos cada vez mais apertados, as lágrimas não resistiram ao último dos fatos que lhe foram narrados: seu menino estava sendo encaminhado à polícia. O motivo das facadas daquele dia era algo que ela jamais acreditaria fazer parte da realidade da sua casa: o envolvimento com crack. Graças à boa conduta do rapaz, não houve prisão.
O primeiro “tiro na lata” dado pelo universitário Francisco*, de 23 anos, foi por curiosidade, quando o jovem viu amigos fazendo o mesmo em um bar no bairro da Cidade Universitária, no Recife (PE). Aos 19 anos, ele já consumia álcool, maconha e fumava cigarro de nicotina e, a partir dali, passou a gastar de R$ 300 a R$ 400 com o crack, diariamente. Afastou-se dos amigos e o sexo com a namorada virou uma mera obrigação.
Encontrar as pedras não era difícil para Francisco*, bastava uma ligação e o crack chegava até suas mãos. Mas, para garantir sua fonte de prazer, o dinheiro passou a ser problema. “Comecei a roubar, pegava da minha mãe mesmo. Ou então pedia a meu pai”. Embora tenha perdido muito peso à época - foram quase dois anos de uso - ele não acredita ter chegado ao fundo do poço. “O que me fez sair daquilo foi não querer magoar minha mãe, que é a coisa mais importante da minha vida. Um vizinho me delatou a ela ao perceber a movimentação de compra, mas hoje agradeço a ele”. A família de Francisco* o mandou para uma clínica fora de Pernambuco, onde reside. Ele ficou internado por um mês. (Folha de Pernambuco)
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