domingo, 15 de novembro de 2009

O rio e a cidade


Tu vens de muito longe, há muito tempo, desde que te chamavam de Caapiuar-y-be. Vences barreiras, abres veredas – e chegas aqui qual amante que se aloja no leito da mulher amada: ora forte, exuberante; ora sinuoso, como que a contorcer-se preguiçoso e carente após tremenda peleja. A cidade amada o acolhe sequiosa do teu vigor e do teu afeto. O tempo, porém, sob o vendaval da moderna desordem, perturba a tua relação com a cidade como os desencontros da vida ameaçam uma relação de amor. Já não és mais aquele, que ao olhar do poeta Cabral “Engoliu as terras, engoliu as casas,/Engoliu as cercas/E engordou seu corpo/Engolindo as noites, engolindo os dias.” Fostes envolvido pela sanha do lucro, do fausto, da ambição, da desesperança, da dor, do desamor. Agora, quando tu encontras o teu irmão gêmeo, o Bebyrype, e se abraçam ao encontro do imenso oceano, parece-se enfim derrotado. Mas ainda conservas a energia que brota do teu nascedouro, fonte renovável de tua força; e a cidade, essa amante cruel, como que arrependida, parece enfim acordar da longa noite de insensatez e, envolta pelo clamor da reinvenção da vida busca reiventar-se a si mesma e te reencontrar como dois seres que se amam retornam à pureza do primeiro encontro.

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Essa minicrônica escrevi para a revista Perto de Casa, a pedido da editora Taciana Valença, em dezembro do ano passado. A inseri em meu comentário introdutório à audiência pública acerca do tema Impactos econômicos, urbanísticos e ambientais do Projeto Capibaribe Melhor, realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara Municipal do Recife, nesta sexta-feira 13, com a participação de gestores públicos e diversificados segmentos da sociedade civil.



É preciso abordar os problemas centrais da cidade com rigor técnico, sim, e sobretudo com sensibilidade e compromisso social. Mais: sem deixar que a denúncia, o protesto e a polêmica – sempre úteis ao processo democrático – nos leve a perder a leveza e a esperança, que dão sentido e beleza à nossa luta em defesa da vida.

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O Projeto Capibaribe Melhor, pelo qual lutamos desde 2005, na gestão do prefeito João Paulo (de quem fui, com muita honra, vice-prefeito), agora se confirma com o financiamento do BIRD (70% dos 46,8 milhões de dólares orçados). Beneficiará a Bacia do Capibaribe, no trecho da BR 101 à Av. Agamenon Magalhães, proporcionando melhores condições de habitabilidade a 56.349 famílias (116.244 habitantes à margem direita e 109.152 à esquerda). Saneará cerca de 20 áreas à margem do rio e recuperará 11 canais. Construirá 2 pontes, pavimentará 30 ruas e avenidas, implantará uma ciclovia e viabilizará 3 parques.



Um projeto de dimensão estratégica para a cidade – que deve ser acompanhado, sim, por toda a sociedade.

Luciano Siqueira (ex-vice prefeito do Recife ,atualmente é vereador do P C do B)

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