domingo, 15 de novembro de 2009

“Collor foi quem abriu o caminho”

Fiel escudeiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello, o ex-senador Ney Maranhão esteve ao lado do alagoano até o apagar das luzes do impeachment. Aos 82 anos, não esquece um detalhe daqueles idos de 1992. Tem na ponta da língua as palavras proferidas antes do voto contrário à deposição do presidente, quando exercia o mandato no Senado. Diferente de Collor, ele não poupa citar nomes de quem considera traidor e lembra que o ex-presidente passava horas ao telefone com Frei Damião de quem é devoto. Ney Maranhão acompanha Fernando Collor de perto até hoje. É seu assessor especial em Brasília e frisa: “Ele é como um filho para mim”.






Collor



O presidente Collor foi quem abriu o caminho para o que, hoje, o Brasil tem. Os presidentes que o substituíram continuaram. Foi uma agenda com visão de modernidade que ele tentou, em dois anos, executar. As nossas indústrias eram vagabundas, caras e viviam à custa do poder público. Os carros que tínhamos eram carroças, como ele dizia, e tudo isso que está ai foi ele que abriu.







Mudança



Você chegava numa loja de ferragem e era obrigado a levar um saco de cimento de 50 quilos, porque havia trustes. Quem vendia cimento em Pernambuco era Antônio Ermírio de Moraes e João Santos. O que ele (Collor) disse: quem não pode ter uma indústria, monta uma barraca. E deu condições ao Brasil de concorrer com o mundo.







Golpe



Montaram um esquema para derrubá-lo. Quando criaram a CPI para investigar PC (Paulo César - tesoureiro da campanha), eu era o líder. Aí eu disse: minha memória retroage 46 anos, quando foi criada também a CPI para derrubar e investigar Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas. A intenção era derrubar Getúlio. A mesma coisa aconteceu com Collor.







Grupos econômicos



Esses grandes grupos ele contrariou, desde telefonia à indústria pesada. O empresariado, então, se juntou com as forças do Congresso contra ele.







Fidelidade



Acompanhei tudo. Só quem ficou com ele fui eu. O sujeito tem que ter palavra, ser grato. Me orgulho. Ele vai servir muito ao Brasil ainda. Em Alagoas, está disparado para o Governo do Estado.







Votação pelo Impeachment



A votação foi nominal. Os deputados justificavam: “Pela minha mãe, pela minha família...”. Quem presidiu a sessão foi o ministro Sydney Sanches. Na minha vez, voltei-me a ele e disse: “Senhor presidente, muito me admira, Vossa Excelência, presidente da suprema corte, está presidindo essa farsa, meu voto é contra”. Entre os deputados que votaram contra o impeachment estavam Tony Gel, Gilson Machado e Ricardo Fiúza.







Traição



Deputados que ofereceram banquete a Collor à noite. No dia seguinte, votaram contra ele. Um deles foi o deputado Onaireves Moura, presidente da Federação de Futebol do Paraná.







Religião



O presidente (Collor) adorava Frei Damião. Ligava para ele da minha fazenda, em Moreno, e ficava ao telefone conversando. Foi Collor quem deu a caminhonete para Frei Damião fazer suas peregrinações. O frei era muito amigo da família do presidente. Em vez do escudo do Senado, ele anda com escudo de nossa senhora para protegê-lo e de Frei Damião que é quem o ajuda até hoje.







Tropa de Choque



Chefiei a tropa de choque contra derrubada do presidente Collor. “Quem vive em cima do muro é macaco ou ladrão”.







Erro



Primeiro erro é que ele não teve contato com o Congresso. Achava que cada um fazia seu trabalho e não interferia no Senado e Câmara. Não era de difícil trato, era educadíssimo. Mas pensava dessa maneira. Hoje, ele reconhece que errou.







Personalidade



Collor não é orgulhoso, é tranquilíssimo. Foi o único homem que derrotou as elites políticas do País. Derrotou Leonel Brizola (PDT), Aureliano Chaves (PFL), Ulysses Guimarães (PMDB) - todos candidatos em 1989. O partido era pequeno, ele não tinha bancada.







Proximidade



Conheci o presidente quando ele era prefeito de Maceió por volta de 1980, 1982. Fui colega do pai dele. Admirei Collor pela posição ideológica, que era a mesma minha, de abertura, de tirar da mão da viúva empresas que só davam prejuízo. Não tinha meio termo, era sim, sim, não, não. Considero ele como filho.







VOLTA



Esse homem com 28 dias de campanha e apenas 28 segundos de programa eleitoral, integrando o PRTB e com uma candidatura iniciada de última hora, em 3 de setembro, quando a eleição era no dia 1º de outubro, derrotou ex-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa. E derrotou o poderio financeiro de João Lira. Teve essa vitória nacional depois de ter sido escorraçado. Até a mãe dele, que ele queria visitar no velório, não deixaram. Getúlio não sofreu 10% do que ele e deu um tiro no peito.







SENADO



Collor foi o segundo senador mais votado em 2006. O primeiro foi Roriz. Ele voltou por imposição do povo. Hoje, no Senado, é uma referência, preside uma das mais importantes comissões que é a de Infra-Estrutura. Todas as obras do PAC passam por ele.







LULA



Lula ouve muito ele. Primeiro pela posição que ocupa. Lula é um homem formado na escola da vida, com 84% de aprovação, conhece o povo. Ninguém melhor que Lula para reconhecer que Collor é líder nato.







Escândalos



Comparando com os escândalos do governo Lula, as denúncias contra Collor eram pequenas. Folha de Pernambuco

Nenhum comentário: