O senhor corrobora com as avaliações do prefeito Renildo Calheiros (PCdoB/ Olinda) e do secretário Humberto Costa (PT/Cidades), que acusaram o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) de fazer campanha agredindo os adversários?
Jarbas não era agressivo nem agredia quando foi um grande tribuno da resistência à Ditadura. Pelo contrário, era muito elogiado pela sua firmeza de subir na tribuna e correr o risco de quebrar a clandestinidade de alguém que estava sendo torturado, como, por exemplo, a avó dos meus filhos. Jarbas não mudou, esse é o estilo dele de fazer política. Evidentemente que isso, nos tempos de hoje, quando você tem o primado da comunicação e do marketing, pode até soar, digamos assim, uma oitava a mais. Num estilo até áspero. Por baixo dessa aspereza está uma sinceridade de posições, e, sobretudo, uma firmeza em termos de princípios. Jarbas é o que ele sempre foi: um político de combate, de uma maneira aberta, de uma maneira franca. Você pode gostar ou não.
O senador é capaz de vencer o governador Eduardo Campos?
Eu esperava que Eduardo assumisse e promovesse uma unidade, ou pelo menos uma elevação desse patamar em termos de disputa. Acho que não tem acontecido. Em 2008, o governador estava no palanque do candidato do PT, João da Costa, e ele (o governador) foi quem bancou e articulou a campanha de Cadoca. ‘Nunca antes na história deste Estado’ você teve um governador que, para fins externos estivesse num palanque (o de João da Costa), e para os seus fins próprios, do seu interesse político, articulasse, bancasse outro palanque.
O senhor está afirmando que o governador apoiou, nos bastidores, a campanha a prefeito de Cadoca, mesmo, oficialmente, estando o PSB coligado com o PT?
Digo isso como alguém que fez parte desse palanque, de Cadoca, e que também, juntamente com João Braga, tem o inteiro conhecimento que essa opção foi feita sim, pelo governador. Isso não é modernidade política. Isso, de forma nenhuma, agrega. Quando Cadoca cai nas pesquisas, o governador, literalmente, desconhece o projeto do qual ele participou politicamente. Eu abro os jornais e vejo ele inteiramente empenhado na vitória de quem ele, na verdade, tudo fez ao seu alcance para derrotar (João da Costa).
Por que, em sua opinião, o governador tomaria tal atitude?
Porque ele temia, à época, aquilo que eu, em entrevista à Folha, chamei da punhalada de João Paulo. Também se pode dizer que o governador apunhalou João Paulo. Este palanque que está aí - e João Paulo sabe disso - não é um palanque que tem uma liga forte. Digo mais: por dois motivos João Paulo não será o candidato a senador. Primeiro, ele seria, única e exclusivamente, para combater Jarbas na Região Metropolitana, não necessariamente para ganhar. Segundo lugar porque o grupo de Humberto Costa tem uma escolha que é o (deputado federal) Maurício Rands (PT). E por que essa escolha? Porque se João Paulo ganha essa eleição para o Senado, eles perdem toda a interlocução nacional e verão o desmantelar da sua tendência dentro do PT.
Nesse cenário, João Paulo concorreria à Câmara Federal ou daria uma “punhalada” em Eduardo disputando o Governo?
Não acho que João Paulo tenha mais condições a esse respeito. Hoje, a gente sabe que ‘João não é João’. Tá certo? João Paulo se colocou em uma situação muito singular de ser um vencedor que ganhou, mas não levou. Ele sofre limites, resistências por parte do governador. Ele claramente tem um processo de ruptura com o ‘João que não é João’. E que hoje se aproxima do grupo de Humberto Costa. Portanto, ele é aquilo que já era antes. João Paulo não consegue aglutinar. É o típico caudilho, digamos assim. Sem dúvida tem talento, sem dúvida tem votos, mas está sendo preterido por quem tem menos votos que ele.
A vaga de vice pode ir para o PT, em sua ótica?
Tenho um apreço pelo vice-governador (João Lyra Neto-PDT). É um homem sério, de boas intenções. Mas a gestão dele à frente da Saúde é um desastre. Ser você prestar atenção às manchetes de que você está tendo discriminação de idosos, discriminação de pessoas. Ora, que modernidade é essa que implanta em Pernambuco o apartheid da Saúde? Você tem um sistema do marketing, das inaugurações. Aqui você tem uma outra característica do governador: inaugurar o Hospital Miguel Arraes com apenas 30%, aquilo que os gregos chamam de hybris. O que é a hybris? Ela é exatamente o descomedimento, a pressa. É o orgulho excessivo ou a vaidade. E o governador é muito isso.
O senhor acha o governador vaidoso?
Ah, não tenha... Mas isso não é tão importante. O mais importante é a característica do descomedimento. (O ex-deputado) Byron Sarinho, meu melhor amigo, me dizia uma vez, vendo Eduardo secretário da Fazenda do governador Arraes e candidato a deputado federal... Ele dizia: ‘Raul, ele já tem votos para se eleger, mas o apetite dele, o descomedimento faz com ele multiplique’. Enfim, ele ocupa todos os espaços. É isso, por exemplo, que a gente interpreta quando vê um Eduardo com 72 horas, uma semana de governo, encher a cidade de outdoor. É essa pressa, é essa ansiedade que chamo de descomedimento ou a hybris, que faz com que o governador esteja em um palanque e, ao mesmo tempo, monte outro palanque à Prefeitura e depois deixe ao léu. Quero render aqui minha homenagem a Cadoca, que vem enfrentando vicissitudes. Havia um pacto de apoio de que o governador viria e tocaria isso. E todo Pernambuco sabe isso.
E por que o senhor não denunciou isso na época da campanha?
No PPS, tivemos a seguinte situação: eu retiro a candidatura porque não tinha condições, em termos de recursos. Aí uma ala do partido, Roberto Freire à frente, não queria a aliança com os Democratas porque achava que a aliança anterior (em 2006) tinha tido um custo muito alto para o partido, de resistências. De outra parte, tínhamos uma aliança com o PV, que tinha vindo conosco. Eu tinha tido problemas com o Raul (Henry/PMDB), já superados. O PV também tinha tido problemas com o Raul. Então, tinha uma resistência do PV. Se coloca a alternativa de Cadoca, que é um companheiro de grande trajetória etc... Nós negociamos um acordo com o governador. Aliás, o mesmo governador que encontrou-se com Sérgio Guerra antes desse processo todo para convidá-lo a ser o candidato da unidade a prefeito. O que foi recusado por Sérgio Guerra.
Eduardo convidou Guerra para ser candidato a prefeito? Essa é nova...
O mesmo governador que mandou vários recados sobre um apoio a Serra. E isso não foi Sérgio quem me disse... Eduardo poderia vir a apoiar ou ter uma atitude neutra em relação ao candidato do PSDB, José Serra (caso Guerra se lançasse no Recife).
O senhor afirmou que o governador reuniu-se com Sérgio Guerra para convidá-lo a ser candidato a prefeito do Recife em troca de um apoio ‘branco’ a José Serra...
Propor que ele fosse o candidato da unidade a prefeito do Recife.
O senhor estava nesse encontro?
Não, não. Eu soube por terceiros. O governador teve, até pelo momento histórico e pelas suas origens, a possibilidade de promover uma unidade política se não tivesse sido tão revanchista, se tivesse feito o reconhecimento dos avanços do Governo Jarbas. Não é que o Governo Eduardo seja mal. Acho que, inclusive, teve avanços. A questão é que o Governo Jarbas foi muito melhor e, sobretudo, é quem bota Pernambuco nos trilhos. Negar tudo isso não é, se me permite a frase, ‘politicamente correto’. Quando ele vai fazer esse convite a Sérgio, ele vai ainda imbuído desse espírito de unidade. Mas Sérgio, pelo que me disseram, e não foi Sérgio quem me disse, recusou porque já via e percebia o viés que teria daí para frente.
Então, a suposta candidatura de Sérgio Guerra seria o aval para um apoio branco do PSB a José Serra, no plano nacional?
Não sei dizer, exatamente, se foi trade off. Ou seja, ‘toma lá, da cá’. Mas a verdade é que isto chegou ao conhecimento do próprio José Serra. Depois, Serra se sentiu muito frustrado quando viu o governador incentivar a candidatura de Ciro Gomes, em São Paulo. Isso, inclusive, os afastou bastante. José Serra ficou magoado, tinha outra sinalização. Agora, vamos olhar para o futuro. Jarbas será candidato, não tenho a menor sombra de dúvida.
Qual a avaliação que o senhor faz das ações do Governo na área de Saúde?
Às vezes, vejo a intransigência dos médicos, inclusive, com aquele ato que teve o ano passado da renúncia. Aquilo me dói. Um médico abandonar o seu posto não vou negar para você que é uma coisa que me dói, porque sei das pessoas que estão sofrendo e necessitando de atendimento. Embora eu também reconheça as suas faltas de condições. Mas quando você vê um Hospital da Restauração, um Getúlio Vargas, um Agamenom e outros mais na situação que se encontram, dramáticas. Aqui tem uma faixa de gaza, se você é velho você não vem para cá, fica lá. A Saúde não mudou.
E quanto às ações em Segurança Pública?
Fui presidente da Comissão de Segurança (da Câmara) e jamais atuei com o viés oposicionista, por ser oposicionista. Tenho uma projeção nacional, mas tenho respeito por tudo que se busque construir nessa área que se envolve a vida. Acho que o governador tem avanços, que se fazem com base naquilo que o Governo Jarbas e equilibrou em termos de finanças. Ao mesmo tempo, não é um avanço sustentável quando você vê o Aníbal Bruno do jeito que está. O aparato policial está conseguindo levar muito mais gente para a cadeia. Mas o que está acontecendo na cadeia? Absolutamente superlotada.
E dá para a oposição vencer nesse cenário?
Em março, eu creio, Aécio assume a vice. Conversei com Roberto, com o presidente Fernando Henrique. Acho que será irresistível à pressão, por assim dizer, o chamamento a Aécio. Isso tem um reflexo extraordinário. A tentativa do governador em Vitória de Santo Antão, de colocar lados absolutamente opostos, José Aglailson, Elias Lira, resultou num desastre. Isso tende a se reproduzir e você pode ter certeza que na Região Metropolitana ainda não há uma consolidação do nome de Eduardo. Você tem outras regiões onde há um potencial de crescimento sem a menor sombra de dúvida. A oposição precisa de um novo caminho e precisa construir um discurso.
O senhor já tem a fórmula, então?
É preciso não replicar o comportamento que você tem no Governo Eduardo. Quando o bom Danilo Cabral (PSB/Secretário de Educação), que é uma pessoa com quem tenho boa relação, do alto de um salto 15, diz que derrotar Jarbas é sempre mais gostoso... Deixa eles ficarem com esse salto 15, deixa eles crerem que essa vitória será fácil, deixa eles desconhecerem o cenário que está se montando.
O PPS terá candidato ao Senado?
Espero que seja o ex-secretário de Saúde, Guilherme Robalinho. Não vamos subir em salto algum, vamos ficar de chinelo. Temos uma coesão que você não encontra do outro lado. Ah, não. Olha o que aconteceu com Inocêncio Oliveira. Foi o primeiro a chegar e veja o que aconteceu com ele. Divergência com o governador e, pelo que eu sei, o governador manda emissários à casa de Inocêncio com um texto para ele assinar. E Inocêncio, coerentemente com aquilo que ele é, com sua trajetória, não quis. Tem também a disputa de Fernando Bezerra Coelho, que não é uma coisa muito clara até hoje. Não fica evidente qual é o papel que ele tem nessa saída do João Paulo. Veja os conflitos do PTB, esse caso da Empetur, na área do Turismo. Temos é que ter sandálias da humildade. (Folha de Pernambuco)
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