domingo, 20 de dezembro de 2009

“Fizemos sem discriminar um prefeito”

ARTHUR CUNHA, RICARDO DANTAS BARRETO, PAULO MARINHO, ROBSON ANDRÉ E SARAH ELEUTÉRIO
Entrevista - Eduardo Campos (PSB)

Governador de Pernambuco


Prestes a completar três anos de mandato, o governador Eduardo Campos (PSB) concedeu entrevista à Folha de Pernambuco, na última quarta-feira, quando fez o balanço de 2009 e falou sobre projetos futuros. O socialista garantiu que as crise na Empetur - que culminou na queda do ex-secretário de Turismo, Silvio Costa Filho (PTB) - e a saída do ex-prefeito João Paulo (PT) da pasta de Articulação Regional não arranharam a imagem do Governo. Na área econômica, Eduardo lembrou que houve um desgaste no orçamento estipulado para este ano, mas sem atingir quaisquer obras traçadas para o período por conta de reservas do próprio tesouro estadual. Também comemorou o fato de a gestão ter conseguido superar a meta do Pacto Pela Vida em 2009, reduzindo em mais de 12% a taxa de homicídios, ao tempo em que cumpriu uma promessa de campanha: entregar o primeiro dos três hospitais.


O senhor passou boa parte do ano indo a vários municípios do interior do Estado. Realmente acredita que dá para separar o conteúdo político da pauta administrativa?

Acho que sim. Nós fomos a todos esse municípios e onde chegamos o nosso Governo já tinha chegado antes. Tinha chegado na escola com material didático, fardamento, computador, mais professores. Tinha chegado com estradas, apoiando a agricultura familiar, com aração de terra, com sementes de qualidade, com novas empresas gerando emprego, com abastecimento de água, com telefonia celular que não tinha. Não tínhamos em mais de 100 municípios e estamos universalizando agora em 2010 para todos. Com complementos do Luz Para Todos, com ações de Academias da Cidade. E fomos lá levantar demandas, acompanhar obras. Fizemos isso sem discriminar um só prefeito, de qualquer partido que seja, da nossa base ou da oposição.


Mas existe o caráter político...

O caráter político ele sempre existe porque nós todos somos políticos, eleitos pelo povo. Nós estamos lá politicamente prestando contas ao povo, respeitando o voto do povo que elegeu o prefeito A, B ou C. Ou a prefeita. Agora, em hora nenhuma nós demos qualquer trato eleitoral ou conteúdo eleitoral a essas viagens de trabalho.


Até a metade deste ano, o Governo Eduardo Campos vinha em céu de brigadeiro, política e administrativamente. E aí veio o problema ocasionado pela questão político-eleitoral de João Paulo. Depois veio o problema por questão administrativa na Secretaria de Turismo. Isso foi um choque?

Eu acho que eu continuo a navegar da mesma forma de quando eu comecei o Governo: sabendo para onde estou indo, com projeto para Pernambuco, com projeto de governo, com modelo de gestão, com determinação, com muito trabalho...


Mas sentiu o baque?

Com muita tranquilidade. Estou muito tranquilo, da mesma forma. Vamos terminar o ano muito bem, do ponto de vista de ter sido um ano muito duro no econômico. Vocês terão a oportunidade de comparar as finanças de Pernambuco com as de outros estados. Tivemos que tomar decisões muitos duras do ponto de vista fiscal ao longo do ano, para garantir todas as obras sendo tocadas, folha em dia, décimo-terceiro antecipado, os aumentos que foram dados serem honrados. E vamos começar um ano ainda muitas vezes melhor.


Não respondeu ainda se sofreu o baque nesses dois problemas...

Eu respondi. Essa foi a resposta que eu lhe dei.


No momento em que o ex-secretário de Turismo, Silvio Costa Filho, pediu demissão do cargo, a crise da Empetur ficou concentrada nele ou ainda afeta o Governo?

Olhe, deixe eu lhe dizer... Sobre esse caso eu falei com vocês em todos os momentos... Me acionaram, mesmo em entrevistas que estávamos dando sobre outro assunto foi levantada a questão. Sempre tratei com toda a tranquilidade e transparência e sempre me posicionei. Eu disse a vocês, já há alguns dias que, para mim, esse caso está encerrado. O que eu tinha de falar sobre o caso já falei publicamente, não vou ficar...


Não ficou alguma marca?

O caso está encerrado.


Sim, mas ficou alguma marca? O senhor determinou uma auditoria na Empetur. Já chegou algum relatório?

Não.


Então o caso não está encerrado. Se está acontecendo auditoria...

O caso está encerrado porque a decisão que eu tinha de tomar já tomei. O que eu tinha que falar sobre o caso, eu já falei. Agora é a hora dos órgãos de controle falarem. E os órgãos de controle vão falar. Todos foram acionados pelas pessoas que foram... Tomaram a iniciativa de ir aos órgãos de controle, o governo tomou. O secretário tomou, Silvio Costa. A oposição tomou. Todo mundo tomou suas posições e vamos... Eu já disse: para mim esse caso está encerrado.


Com a proximidade das eleições, a disputa pelo Senado começou a esquentar. Como senhor administrará essas confusões?

Vamos começar 2010 e eu vou tratar de eleição quando a Lei determinar que é para tratar de eleição, que é próximo à convenção. O povo de Pernambuco não me elegeu para coordenar um comitê eleitoral. Me elegeu para fazer as mudanças que estou fazendo. Estou conseguindo fazer com a ajuda de muitos pernambucanos. Se eu tivesse entrado no debate só eleitoral, eu já tinha entrado aqui discutindo a eleição de 2008. Quando terminasse 2008, eu já teria começado a discutir 2010. Se eu tivesse entrado nessa conversa, nós não estaríamos entregando o volume de obras que estamos entregando à sociedade. Pernambuco não estaria gerando emprego como está. Veja o desemprego em 2006 e veja o desemprego hoje. Veja a taxa de crescimento do nosso PIB hoje. Veja o do Nordeste, veja a do Brasil. Isso acontece com trabalho, foco. Entregar à população as políticas que geram emprego. Quem quer antecipar muitas vezes o tempo na política não se dá bem.


A sua “tropa” - do mais alto escalão aos soldados rasos - tem se mostrado animada com a possibilidade de disputar o Governo, em 2010, contra o senador Jarbas Vasconcelos. Pelo caráter emblemático que esse embate pode ter, está se avizinhando uma disputa histórica?

Vamos esperar 2010 para a gente falar sobre eleição em 2010, com toda a tranquilidade. Estou terminando um ano muito feliz, de a gente ter conseguido atravessar tantas dificuldades em 2009, de poder estar concluindo tantas ações e poder cumprir compromissos como nós cumprimos. Está aí a UPE gratuita, está aí o Hospital Miguel Arraes entregue, estão aí os resultados na área de Segurança Pública, inquestionáveis. Estão aí as empresas gerando emprego, obras públicas que lutamos durante muitos anos. Estou entrando extremamente tranquilo em 2010. Será um grande ano para Pernambuco.


Por que o senhor fala que 2010 é só em 2010 e nacionalmente vem defendendo a candidatura de Ciro Gomes à Presidência?

Não há contradição nenhuma. Na verdade, o processo sucessório de 2010 nacional foi aberto por quem coordena o processo. O presidente Lula abriu o debate sucessório. E ele, na medida em que abriu o debate sucessório, a oposição está aí para se posicionar quem é, efetivamente, o candidato. Nós, junto com o presidente Lula, estamos discutindo a melhor tática de nos posicionar. Aqui (no Estado) eu entendo que não é a hora de buscar o debate sucessório, somente isso. Lá quem comanda o debate é o presidente e ele abriu o debate político sucessório.


Governador, em relação aos dez secretários que devem se afastar para a eleição do próximo ano, o senhor já pensa em janeiro ou março anunciar os nomes que vão substituí-los?

Neste momento eu estou dedicado a fechar o ano, entregar ações. Quando eu me posicionar em relação a isso... Não tenho uma posição fechada em relação a isso, ainda. Quando eu tiver, eu comunico a vocês.


Mas e o período de adaptação. Isso não pode atrapalhar um pouco o andamento dos resultados?

Não. O andamento não atrapalha em função de nós termos um sistema de gestão rodando. Não tem política de secretário aqui. Tem política de governo. Tem metas estabelecidas, que estão ali colocadas. Não muda nada. Porque vai mudar uma pessoa, não vai mudar uma política. O que o Governo definiu, definiu para a sociedade. Nós fizemos o Todos Por Pernambuco, o que é que foi? O nosso programa de governo. Ouvimos a sociedade, ouvimos em cada micro região. Fizemos plenárias, definimos as metas, os objetivos estratégicos e estamos perseguindo eles. Não há mudança de conteúdo. Alguns companheiros vão disputar eleição e vão sair? Vão. Em um determinado momento. Não decidi ainda quando é.


Sairão só os secretários ou todas as equipes?

Normalmente essas mudanças não ocorrem mexendo em todo mundo.


A atual presidenta do Chile, Michelle Bachelet, tem cerca de 80% de aprovação em seu País. Mesmo assim, não conseguiu transferir votos para seu candidato e a eleição vai para o segundo turno. O senhor acredita que Lula conseguirá transferir sua popularidade para Dilma Rousseff, em 2010, haja vista que a ministra é tida como uma candidata pesada?

Dilma e Ciro Gomes. Eu não sei se a presidente Michelle Bachelet queria ganhar a eleição. Eu sei é que Lula quer. Isso faz muita diferença. O Lula quer ganhar a eleição e vai discutir com Dilma, Ciro, todos nós. Temos até março para fazer isso. Acho que no Brasil não há um desejo de mudança com o rumo que o Brasil tomou sob a liderança do presidente Lula. Não há saudade daqueles que governaram o País antes do Lula. Há muita confiança no presidente. Apesar de a oposição insistir em ficar agredindo, tentando desqualificar o presidente, não houve presidente neste País que fez tanto por Pernambuco quanto o presidente Lula. Eu entendo que ele vai coordenar o processo de sucessão e acho que ele vai ter êxito.


Por falar em oposição, como o que viu o desempenho dos adversários aqui em Pernambuco em relação ao seu governo. Foi puro ataque, o nível foi baixo?

Quando me elegi governador muitas pessoas imaginavam que, por eu ter passado por momentos muitos duros, não só eu como Dr. Arraes, minha família, meus companheiros, de ataques, de tentativa de desqualificação, e por ser ainda muito jovem, essas pessoas pensavam que eu faria da minha vitória um ato de olhar para trás ou um ato de revide. De fato fizemos da maior vitória da história de Pernambuco um combustível para construir o futuro. E o primeiro passo para construir o futuro foi dar a nossa contribuição para buscar a paz política em Pernambuco. Para não alimentar a política do ataque pessoal, da desqualificação. Gosto de respeito, e respeito, portanto, a nossa oposição. Entendo que na política quem briga são as propostas, são as ideias. As pessoas não precisam brigar, continuo na minha posição. Não estou aqui para avaliar a oposição. A oposição é que tem que fazer a sua avaliação. No regime democrático é importante a presença da oposição.


O senhor diz que não está olhando para trás, que respeita a oposição. Mas sempre que pode, em eventos públicos, faz críticas às gestões passadas...

Se você comparar o que era comum aqui, de se falar das gestões passadas, da atitude. Não estou aqui para... Não alimentei isso hora nenhuma. Minha cabeça está olhando é para o futuro, para as coisas que têm para fazer. A minha geração e uma geração até mais nova do que a minha não querem mais reviver algum tipo de azedume, de disputa. Isso não é bom para Pernambuco. Da minha parte nunca teve nem vai ter.


E da outra parte?

Aí tem que perguntar para a outra parte. Não posso responder pelas outras partes, tenho que responder pela parte que me cabe.

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