Na verdade, deve muitas autocríticas perante o povo brasileiro. Mas será cobrar em excesso que faça todas. Por hora, basta uma.
Quem não lembra que no eclodir da crise global, quando nuvens ameaçadoras tornavam o ambiente econômico turvo, os principais próceres oposicionistas de pronto passaram a defender, como uma cantilena, drástico corte nos gastos públicos? Isso a despeito de no mundo inteiro ter surgido verdadeiro clamor por socorro do Estado para interromper a quebradeira de bancos e grandes empresas. É que a dupla demo-tucana, aferrada aos postulados neoliberais e órfã do receituário do FMI, só enxergava, para o Brasil, a fórmula do encurtamento da intervenção estatal.
Se o governo continuar investindo, será inevitável um grave desequilíbrio das contas públicas, diziam.
Recentemente, o economista João Sicsú, diretor de estudos macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), demonstrou exatamente o contrário: que o equilíbrio das contas públicas é resultado do crescimento econômico e não do corte de gastos. É a prática como crivo da verdade.
As recentes indicações de que há, ainda que tímida, uma retomada imediata das atividades industriais e, por conseqüência, uma melhora do desempenho da economia como um todo – diferencial brasileiro no contexto mundial – reforçam o conceito.
No fundo, a cantilena oposicionista se inspirava na teoria do Estado mínimo, um dos pilares da receita neoliberal. Quando o que ocorre – aqui e alhures – é a confirmação de que por esse caminho teríamos ido ao fundo do poço. A coisa aconteceria assim: menos impostos, menos investimentos públicos, controle monetário e cambial rígidos, arrocho fiscal – levando à queda nos investimentos estatais em infraestrutura (o PAC que se danasse!), redução da produção, desemprego em grande escala, recessão.
O governo preferiu o caminho inverso. Manteve e ampliou o PAC e, mediante flexibilidade fiscal, estimulou a produção, a manutenção do nível do emprego (que entre nós caiu menos do que na maioria dos países) e o fomento do mercado interno. Resultado: sobrevivemos e agora comemoramos a possibilidade de crescer, segundo as previsões mais otimistas, até 4,5% no ano que vem (estimativa do ministro Mantega).
A oposição demo-tucana, que vaga sem rumo, bem que poderia, então, fazer a sua autocrítica e, quem sabe, ensaiar alguma proposta para o país em contraponto ao rumo adotado. Mas está longe disso. Prefere questionar a indicação do novo ministro do STF, acusando-o de petista; ou rastrear a declaração de imposto de renda de desafetos. Só.
Luciano Siqueira -vereador do P C do B (Recife)
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