Fazendo pouco caso do ditado popular que fala que “mineiro come quieto”, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), faz questão de não esconder suas pretensões políticas para o futuro e inicia amanhã, em Pernambuco, um calendário de atividades por todo o Brasil. Com a clara intenção de fortalecer seu nome na disputa pela candidatura à presidência da República, o tucano avisa que aproveitará as visitas para reunir parlamentares e prefeitos aliados numa discussão sobre os rumos da legenda no tocante a 2010 e o período “pós-Lula”. Na entrevista exclusiva à Agência Nordeste, ele não demonstra pudor ao fazer uma avaliação a respeito do Bolsa Família, maior programa social criado pelo presidente Lula (PT). “Precisamos sair da barreira do assistencialismo”, dispara, sem medo de desagradar à maioria nordestina que aprova o auxílio.
Por que o senhor escolheu Pernambuco para começar a sua agenda de viagens pelo país?
Na verdade, essa minha visita a Pernambuco tem um simbolismo muito forte, porque em primeiro lugar vou participar do lançamento de um livro do ex-ministro do meu avô, Tancredo Neves, que é o Fernando Lyra. Ele relata alguns momentos importantes da mais extraordinária construção política que o Brasil já viveu na reconquista da democracia. Então, é uma possibilidade de retorno a um dos mais emocionantes momentos da vida pública, da vida política brasileira. E aí é natural que estando no Recife, inclusive, terra do presidente nacional do PSDB (Sérgio Guerra), eu tenha um contato com os companheiros do nosso partido. É a oportunidade de falarmos um pouco a respeito daquilo que pretendemos assistir no Brasil no período que eu chamo pós-Lula. O que nós pretendemos construir agora é a agenda pós-Lula, aquilo que ainda não aconteceu e precisa ocorrer no Brasil para que possamos crescer a taxas ainda mais vigorosas, ter um projeto de desenvolvimento regional mais arrojado, incluir a boa prática da gestão pública na agenda do Brasil, enfim, a oportunidade de conversar com os companheiros do Nordeste e em especial de Pernambuco sobre o Brasil que queremos construir após 2010. Quais são os próximos estados a serem visitados?
Olhe, não marcamos ainda essa agenda. O que eu tenho dito é que o PSDB tem uma oportunidade extraordinária de discutir propostas visitando o País. É muito melhor se essas propostas puderem ser construídas com as lideranças do partido, seja com o governador José Serra ou o líder (do PSDB no Senado), Arthur Virgílio, o senador Tasso Jeiressati (CE), o senador Sérgio Guerra, dentre tantas lideranças. O próprio (ex-) presidente Fernando Henrique. O que tenho estimulado é que cada um de nós possa percorrer o Brasil. Cada um no seu tempo. O PSDB tem uma grande oportunidade de voltar ao poder central, mas não basta apenas querer voltar. É preciso que consolidemos propostas, projetos que voltem a falar à alma, ao coração das pessoas. Eu gostaria inclusive de fazer algumas visitas junto com o governador Serra e outras lideranças partidárias. Vou buscar agendar com eles nossas próximas viagens. Nesse caso, o calendário programático trata-se de uma forma de abrir os olhos do PSDB para a necessidade de prévias?
As prévias devem ser vistas como instrumento de mobilização do partido, jamais como instrumento de divisão. As prévias poderiam ser uma enorme oportunidade de o partido novamente mobilizar-se no interior do país, nos diversos estados brasileiros e também de definirmos quais serão as principais bandeiras que o PSDB irá defender na próxima campanha à presidência, além da indicação de qual será o nome do candidato a presidente pelo partido. Mas, antes mesmo das prévias, eu tenho estimulado que os companheiros possam fazer esse périplo, essa rodada, sobretudo para contribuir com a construção dos palanques regionais, que são fundamentais à sustentação da candidatura nacional do PSDB. O governador José Serra diz que “não dá tempo de governar e fazer campanha”. Ao fazer uma movimentação pelo Brasil, o senhor não deixaria de lado o Governo de Minas Gerais?
Não. Ao contrário. É sempre a prioridade absoluta de todos nós. O governo Minas pelo sétimo ano tem avaliação sempre acima dos 80%. Em todas as enquetes feitas no Brasil até hoje o Governo de Minas sempre aparece como o mais bem avaliado exatamente porque aqui nós temos trabalhado. E continuaremos trabalhando muito. Apenas considero que além das nossas responsabilidades administrativas todos nós temos responsabilidade política no sentido da construção de projetos para o País. E os finais de semana seriam um momento adequado para isso. Por falar no livro de Fernando Lyra, ele coloca a máxima de que “os paulistas só pensam em São Paulo”. São Paulo ainda precisa reavaliar certas posturas para entrar em consonância com todo o país?
Tenho enorme respeito por São Paulo e pelos paulistas. O Brasil não seria o que é se não fosse a força de São Paulo, o empreendedorismo dos paulistas. O que queremos ver cada vez mais é um Brasil mais integrado e para essa integração nós teremos, eu não tenho dúvida, a participação fundamental dos paulistas. Deputados estaduais mineiros e o prefeito de Montes Claros, Luiz Tadeu Leite (PMDB), avisaram que no dia 6 de abril vão lançá-lo à Presidência. Não há receio de que os aliados reclamem de uma pressa com o “andor”?
Eu solicitei aos companheiros do norte, depois de ler essa notícia, que não façam esse ato. A reunião de Montes Claros é uma reunião do Conselho Deliberativo da Sudene e do conjunto de governadores do Nordeste e daqueles estados que têm presença na Sudene e não comporta nenhum ato de conotação político-partidária. É um gesto gentil desses parlamentares, do prefeito, mas que não terá espaço no dia 6 de abril. É uma agenda eminentemente administrativa e isso tem que ser respeitado, senão perde-se totalmente o objetivo daquilo que está sendo proposto. Portanto, já desautorizei que seja feita qualquer ação política.
Se o presidenciável do PSDB não for escolhido pelas prévias, o senhor dará apoio integral ao candidato tucano?
Eu espero que o PSDB amadureça o seu processo de definição interna. Isso é bom para o partido, para qualquer que seja o seu candidato. Pretendo construir a minha trajetória junto ao PSDB, as bases do partido e respeito à decisão majoritária do partido. Não posso falar sobre hipóteses, porque tenho ainda hoje a confiança e até mesmo a palavra nacional do partido de que essas prévias serão regulamentadas. O que nós devemos é fazê-la é em clima de harmonia e não de beligerância. Em clima de concórdia, de construção da unidade. E acho que isso é plenamente possível pela alta qualidade das lideranças do PSDB, a começar pelo governador José Serra. Aqueles que temem que prévias possam ser instrumento de desestabilização ou de ruptura partidária se decepcionarão, porque ela será um instrumento de revigoramento do partido, de fortalecimento das nossas ideias e principalmente de fortalecimento da nossa unidade. Recentemente, foi feita uma comparação curiosa entre o senhor e o governador José Serra. A ideia seria a de que “Aécio é o Barack Obama e Serra, Hilary Clinton”. É por aí mesmo?
(Risos) Não. Na verdade, numa hora como essa surgem todos os tipos de especulações e de avaliações. Eu tenho pelo governador Serra um extraordinário respeito e uma amizade pessoal inquebrantável. Eu posso garantir aos senhores que qualquer que seja o resultado, José Serra ou Aécio Neves, o PSDB e seus aliados, estaremos todos juntos trabalhando na mesma direção pelo Brasil. Na base aliada, o DEM diz que a oposição não deve perder tempo com o PMDB, pois o partido já estaria encaminhado para apoiar o candidato indicado por Lula, em 2010. O senhor também vê dessa forma?
Não. Acredito que devemos ampliar o nosso leque de alianças. Temos alianças sólidas com o Democratas, com o PPS - que, aliás, esteve comigo através de sua bancada federal desde ontem, em Belo Horizonte -, mas devemos estender essas conversas com outras forças políticas, entre as quais eu incluiria além do PMDB o próprio PSB. Por maior proximidade e lealdade que tenha e certamente continuará tendo com o presidente Lula, o PSB pode querer participar de um novo projeto para o país. Por isso a necessidade de o PSDB apresentar propostas. É muito mais fácil você levantar o leque de apoios a propostas, a projetos do que individualmente a partidos ou pessoas. Portanto, essas andanças pelo país poderiam ser uma oportunidade extraordinária também para estreitar a relação com outras forças políticas. Não devemos desde já abdicar da construção de uma aliança mais ampla para vencer as eleições e governar o país. O senhor chegou a dizer que gostaria de ter o governador Eduardo Campos ao seu lado. É apenas um desejo ou já está trabalhando para que isso aconteça de fato?
Tenho um enorme respeito pelo governador Eduardo Campos e por todo mundo do PSB. Tenho amigos fraternos no partido, como por exemplo o ex-governador Ciro Gomes (CE). Respeito as posições que o PSB tem hoje de apoio ao presidente Lula. Mas, o que estamos falando não é de o PSB abdicar desse apoio. Quem sabe participar de uma nova concertação política, de uma nova convergência política que fuja dessa polarização, dessa radicalização que coloca de um lado do espectro político o PT e de outro o PSDB, fazendo com que quem vença as eleições encontre uma oposição na outra ponta extremamente radicalizada. Acho possível sim e trabalharei no limite do possível para que o PSB esteja mais próximo de nós na construção de uma agenda pós-2010. PSB é um partido moderno, tem uma visão de país que se assemelha muito a nossa, valores éticos que nós também prezamos e é natural que as nossas conversas ocorram. O senhor considera os peemedebistas na condição de noiva mais cobiçada para a sucessão presidencial de 2010?
O PMDB saiu das eleições com um capital muito alto porque foi o partido que maior número de prefeitos e vereadores elegeu e mostrou uma enorme capilaridade por todo o país. O PMDB não tem uma característica de partido unido principalmente do ponto de vista nacional. Devemos buscar parcerias com o PMDB mesmo que setorialmente. E eu vejo o PMDB como um partido absolutamente vital para a governabilidade do Brasil. Então, acho que devemos continuar também com o PMDB as nossas conversas. Líderes da mais alta patente oposicionista andaram fazendo críticas severas ao Bolsa Família. Isso não é um tiro no pé?
O Bolsa Família deve ser compreendido hoje como um programa fundamental de distribuição de renda no país. E não se deve cogitar em extingui-lo. Ao contrário, ele deve ser fortalecido. O que eu acredito é que agora nós temos que enfrentar a segunda etapa desse programa que ainda não foi enfrentada por esse governo, que é a reinserção no mercado de trabalho de inúmeras famílias que hoje estão fora. Temos que qualificar os trabalhadores para espaços de mercado de trabalho que eles vão encontrar na siderurgia em Minas, ou pode ser no agronegócio em Pernambuco, na indústria têxtil no Sul. Precisamos ultrapassar essa barreira, a do assistencialismo apenas, para o assistencialismo com a janela de saída forte para a reinserção no mercado de trabalho e para o resgate da cidadania dessas famílias. O PSDB deve reconhecer a importância do Bolsa Família. Eu reconheço essa importância porque Minas é um pouco Nordeste. Agora, o PT tem uma particularidade que não temos, que é a de alguma forma partidarizar programas de governo, né? Acabar sendo beneficiado por ações de governo. O PAC e o programa que prevê a construção de 1 milhão de habitações são boas alternativas à crise econômica mundial?
Todos os investimentos públicos, num momento de crise e de diminuição dos investimentos privados, passam a ser mais relevantes. Em relação ao PAC, existem ações muito importantes e que aplaudimos e têm outras que na verdade são mais um conjunto de boas intenções que esperamos que possam ser viabilizadas. Em relação ao programa habitacional, eu tive a oportunidade de ser convidado pela ministra Dilma para discutir com ela há uma semana essa proposta. O que eu disse a ministra é que eu temo que esse programa conduzido de forma extremamente centralizada possa não trazer os resultados que todos nós queremos que cheguem porque existem algumas ações que não devem ser vistas como ações exclusivamente de um governo. São ações de um país e o problema habitacional brasileiro é dramático, é trágico e, por isso, já numa fase final de governo - não vou criticar o governo por estar lançado esse programa apenas agora - apenas alerto que prescindir,abrir mão das parceiras com os estados e municípios, na minha avaliação, é retardar e muito um bom programa, uma boa ideia.
Paulo Marinho
Agência Nordeste
Por que o senhor escolheu Pernambuco para começar a sua agenda de viagens pelo país?
Na verdade, essa minha visita a Pernambuco tem um simbolismo muito forte, porque em primeiro lugar vou participar do lançamento de um livro do ex-ministro do meu avô, Tancredo Neves, que é o Fernando Lyra. Ele relata alguns momentos importantes da mais extraordinária construção política que o Brasil já viveu na reconquista da democracia. Então, é uma possibilidade de retorno a um dos mais emocionantes momentos da vida pública, da vida política brasileira. E aí é natural que estando no Recife, inclusive, terra do presidente nacional do PSDB (Sérgio Guerra), eu tenha um contato com os companheiros do nosso partido. É a oportunidade de falarmos um pouco a respeito daquilo que pretendemos assistir no Brasil no período que eu chamo pós-Lula. O que nós pretendemos construir agora é a agenda pós-Lula, aquilo que ainda não aconteceu e precisa ocorrer no Brasil para que possamos crescer a taxas ainda mais vigorosas, ter um projeto de desenvolvimento regional mais arrojado, incluir a boa prática da gestão pública na agenda do Brasil, enfim, a oportunidade de conversar com os companheiros do Nordeste e em especial de Pernambuco sobre o Brasil que queremos construir após 2010. Quais são os próximos estados a serem visitados?
Olhe, não marcamos ainda essa agenda. O que eu tenho dito é que o PSDB tem uma oportunidade extraordinária de discutir propostas visitando o País. É muito melhor se essas propostas puderem ser construídas com as lideranças do partido, seja com o governador José Serra ou o líder (do PSDB no Senado), Arthur Virgílio, o senador Tasso Jeiressati (CE), o senador Sérgio Guerra, dentre tantas lideranças. O próprio (ex-) presidente Fernando Henrique. O que tenho estimulado é que cada um de nós possa percorrer o Brasil. Cada um no seu tempo. O PSDB tem uma grande oportunidade de voltar ao poder central, mas não basta apenas querer voltar. É preciso que consolidemos propostas, projetos que voltem a falar à alma, ao coração das pessoas. Eu gostaria inclusive de fazer algumas visitas junto com o governador Serra e outras lideranças partidárias. Vou buscar agendar com eles nossas próximas viagens. Nesse caso, o calendário programático trata-se de uma forma de abrir os olhos do PSDB para a necessidade de prévias?
As prévias devem ser vistas como instrumento de mobilização do partido, jamais como instrumento de divisão. As prévias poderiam ser uma enorme oportunidade de o partido novamente mobilizar-se no interior do país, nos diversos estados brasileiros e também de definirmos quais serão as principais bandeiras que o PSDB irá defender na próxima campanha à presidência, além da indicação de qual será o nome do candidato a presidente pelo partido. Mas, antes mesmo das prévias, eu tenho estimulado que os companheiros possam fazer esse périplo, essa rodada, sobretudo para contribuir com a construção dos palanques regionais, que são fundamentais à sustentação da candidatura nacional do PSDB. O governador José Serra diz que “não dá tempo de governar e fazer campanha”. Ao fazer uma movimentação pelo Brasil, o senhor não deixaria de lado o Governo de Minas Gerais?
Não. Ao contrário. É sempre a prioridade absoluta de todos nós. O governo Minas pelo sétimo ano tem avaliação sempre acima dos 80%. Em todas as enquetes feitas no Brasil até hoje o Governo de Minas sempre aparece como o mais bem avaliado exatamente porque aqui nós temos trabalhado. E continuaremos trabalhando muito. Apenas considero que além das nossas responsabilidades administrativas todos nós temos responsabilidade política no sentido da construção de projetos para o País. E os finais de semana seriam um momento adequado para isso. Por falar no livro de Fernando Lyra, ele coloca a máxima de que “os paulistas só pensam em São Paulo”. São Paulo ainda precisa reavaliar certas posturas para entrar em consonância com todo o país?
Tenho enorme respeito por São Paulo e pelos paulistas. O Brasil não seria o que é se não fosse a força de São Paulo, o empreendedorismo dos paulistas. O que queremos ver cada vez mais é um Brasil mais integrado e para essa integração nós teremos, eu não tenho dúvida, a participação fundamental dos paulistas. Deputados estaduais mineiros e o prefeito de Montes Claros, Luiz Tadeu Leite (PMDB), avisaram que no dia 6 de abril vão lançá-lo à Presidência. Não há receio de que os aliados reclamem de uma pressa com o “andor”?
Eu solicitei aos companheiros do norte, depois de ler essa notícia, que não façam esse ato. A reunião de Montes Claros é uma reunião do Conselho Deliberativo da Sudene e do conjunto de governadores do Nordeste e daqueles estados que têm presença na Sudene e não comporta nenhum ato de conotação político-partidária. É um gesto gentil desses parlamentares, do prefeito, mas que não terá espaço no dia 6 de abril. É uma agenda eminentemente administrativa e isso tem que ser respeitado, senão perde-se totalmente o objetivo daquilo que está sendo proposto. Portanto, já desautorizei que seja feita qualquer ação política.
Se o presidenciável do PSDB não for escolhido pelas prévias, o senhor dará apoio integral ao candidato tucano?
Eu espero que o PSDB amadureça o seu processo de definição interna. Isso é bom para o partido, para qualquer que seja o seu candidato. Pretendo construir a minha trajetória junto ao PSDB, as bases do partido e respeito à decisão majoritária do partido. Não posso falar sobre hipóteses, porque tenho ainda hoje a confiança e até mesmo a palavra nacional do partido de que essas prévias serão regulamentadas. O que nós devemos é fazê-la é em clima de harmonia e não de beligerância. Em clima de concórdia, de construção da unidade. E acho que isso é plenamente possível pela alta qualidade das lideranças do PSDB, a começar pelo governador José Serra. Aqueles que temem que prévias possam ser instrumento de desestabilização ou de ruptura partidária se decepcionarão, porque ela será um instrumento de revigoramento do partido, de fortalecimento das nossas ideias e principalmente de fortalecimento da nossa unidade. Recentemente, foi feita uma comparação curiosa entre o senhor e o governador José Serra. A ideia seria a de que “Aécio é o Barack Obama e Serra, Hilary Clinton”. É por aí mesmo?
(Risos) Não. Na verdade, numa hora como essa surgem todos os tipos de especulações e de avaliações. Eu tenho pelo governador Serra um extraordinário respeito e uma amizade pessoal inquebrantável. Eu posso garantir aos senhores que qualquer que seja o resultado, José Serra ou Aécio Neves, o PSDB e seus aliados, estaremos todos juntos trabalhando na mesma direção pelo Brasil. Na base aliada, o DEM diz que a oposição não deve perder tempo com o PMDB, pois o partido já estaria encaminhado para apoiar o candidato indicado por Lula, em 2010. O senhor também vê dessa forma?
Não. Acredito que devemos ampliar o nosso leque de alianças. Temos alianças sólidas com o Democratas, com o PPS - que, aliás, esteve comigo através de sua bancada federal desde ontem, em Belo Horizonte -, mas devemos estender essas conversas com outras forças políticas, entre as quais eu incluiria além do PMDB o próprio PSB. Por maior proximidade e lealdade que tenha e certamente continuará tendo com o presidente Lula, o PSB pode querer participar de um novo projeto para o país. Por isso a necessidade de o PSDB apresentar propostas. É muito mais fácil você levantar o leque de apoios a propostas, a projetos do que individualmente a partidos ou pessoas. Portanto, essas andanças pelo país poderiam ser uma oportunidade extraordinária também para estreitar a relação com outras forças políticas. Não devemos desde já abdicar da construção de uma aliança mais ampla para vencer as eleições e governar o país. O senhor chegou a dizer que gostaria de ter o governador Eduardo Campos ao seu lado. É apenas um desejo ou já está trabalhando para que isso aconteça de fato?
Tenho um enorme respeito pelo governador Eduardo Campos e por todo mundo do PSB. Tenho amigos fraternos no partido, como por exemplo o ex-governador Ciro Gomes (CE). Respeito as posições que o PSB tem hoje de apoio ao presidente Lula. Mas, o que estamos falando não é de o PSB abdicar desse apoio. Quem sabe participar de uma nova concertação política, de uma nova convergência política que fuja dessa polarização, dessa radicalização que coloca de um lado do espectro político o PT e de outro o PSDB, fazendo com que quem vença as eleições encontre uma oposição na outra ponta extremamente radicalizada. Acho possível sim e trabalharei no limite do possível para que o PSB esteja mais próximo de nós na construção de uma agenda pós-2010. PSB é um partido moderno, tem uma visão de país que se assemelha muito a nossa, valores éticos que nós também prezamos e é natural que as nossas conversas ocorram. O senhor considera os peemedebistas na condição de noiva mais cobiçada para a sucessão presidencial de 2010?
O PMDB saiu das eleições com um capital muito alto porque foi o partido que maior número de prefeitos e vereadores elegeu e mostrou uma enorme capilaridade por todo o país. O PMDB não tem uma característica de partido unido principalmente do ponto de vista nacional. Devemos buscar parcerias com o PMDB mesmo que setorialmente. E eu vejo o PMDB como um partido absolutamente vital para a governabilidade do Brasil. Então, acho que devemos continuar também com o PMDB as nossas conversas. Líderes da mais alta patente oposicionista andaram fazendo críticas severas ao Bolsa Família. Isso não é um tiro no pé?
O Bolsa Família deve ser compreendido hoje como um programa fundamental de distribuição de renda no país. E não se deve cogitar em extingui-lo. Ao contrário, ele deve ser fortalecido. O que eu acredito é que agora nós temos que enfrentar a segunda etapa desse programa que ainda não foi enfrentada por esse governo, que é a reinserção no mercado de trabalho de inúmeras famílias que hoje estão fora. Temos que qualificar os trabalhadores para espaços de mercado de trabalho que eles vão encontrar na siderurgia em Minas, ou pode ser no agronegócio em Pernambuco, na indústria têxtil no Sul. Precisamos ultrapassar essa barreira, a do assistencialismo apenas, para o assistencialismo com a janela de saída forte para a reinserção no mercado de trabalho e para o resgate da cidadania dessas famílias. O PSDB deve reconhecer a importância do Bolsa Família. Eu reconheço essa importância porque Minas é um pouco Nordeste. Agora, o PT tem uma particularidade que não temos, que é a de alguma forma partidarizar programas de governo, né? Acabar sendo beneficiado por ações de governo. O PAC e o programa que prevê a construção de 1 milhão de habitações são boas alternativas à crise econômica mundial?
Todos os investimentos públicos, num momento de crise e de diminuição dos investimentos privados, passam a ser mais relevantes. Em relação ao PAC, existem ações muito importantes e que aplaudimos e têm outras que na verdade são mais um conjunto de boas intenções que esperamos que possam ser viabilizadas. Em relação ao programa habitacional, eu tive a oportunidade de ser convidado pela ministra Dilma para discutir com ela há uma semana essa proposta. O que eu disse a ministra é que eu temo que esse programa conduzido de forma extremamente centralizada possa não trazer os resultados que todos nós queremos que cheguem porque existem algumas ações que não devem ser vistas como ações exclusivamente de um governo. São ações de um país e o problema habitacional brasileiro é dramático, é trágico e, por isso, já numa fase final de governo - não vou criticar o governo por estar lançado esse programa apenas agora - apenas alerto que prescindir,abrir mão das parceiras com os estados e municípios, na minha avaliação, é retardar e muito um bom programa, uma boa ideia.
Paulo Marinho
Agência Nordeste
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