sábado, 28 de março de 2009

Cada macaco em seu mandato


Ao passo que o macaco-mór "usa o prestígio obtido com essas homenagens para manter o equilíbrio social".


O senador Jarbas Vasconcelos não está sozinho. O que ele disse outro dia do PMDB os cientistas vêm dizendo há muito tempo dos primatas. Os colegas do senador só querem o poder "para fazer negócios e ganhar comissões"? Tirando as siglas e os cifrões, os chimpanzés, orangotangos e babuínos também.

Nepotismo, abuso de autoridade, traição, rasteira, golpe, mensalão não há figura da crônica política e da patologia sociológica que não tenha passado ultimamente pelos tratados de primatologia, tornando esses livros, para os leigos, muito mais fáceis de ler. O holandês Frans de Waal, decano da especialidade e autor de Eu, Primata, passou anos anotando tudo o que os chimpanzés faziam no zoológico de Arnhem, nos Países Baixos. Viu "blefes", "coalizões" e "trapaças" onde o público só enxerga macaquice. E concluiu que esses eternos "palhaços do reino animal se sentiriam muito à vontade numa arena política".

O que eles mais fazem é exercer o poder em proveito pessoal. Costumam ser "manipuladores" e "arbitrários". Mentem tão bem que seus chefes caminham com o dorso eriçado, simulando passos de lutadores em tatames de sumô, para dar a impressão de serem maiores que a macacada plebéia. E essa, por sua vez, não se cansa de adulá-los, em rituais de obediência que incluem o beija-mão e, melhor ainda, o beija-pé. Aliás, curvar-se diante dos chefes é coisa de chimpanzé.

A bajulação compensa. É do convívio com os manda-chuvas que descem, em cascata, as prerrogativas hierárquicas do bando. Ao passo que o macaco-mór "usa o prestígio obtido com essas homenagens para manter o equilíbrio social", distribuindo favores essenciais, como o acesso às bananas e às fêmeas. Em bom politiquês, isso se chama clientelismo.

Briga-se muito entre os chimpanzés. Mas suas brigas raramente passam de um exercício que serve para reiterar e reforçar a unidade do grupo. O inimigo mesmo é o externo. Cada vez que dois chimpanzés do alto clero se desentendem, os outros tomam partido e todos berram como se estivessem diante das câmeras da TV Senado. Mas, no fim, acaba tudo em catação recíproca de piolho, que é o grande cerimonial da reconciliação. Adversários aparentemente dispostos a se destroçarem com os dentes foram vistos por Waal, "um minuto depois que as brigas acabavam, correrem um ao encontro do outro, beijar-se, estreitar-se num abraço demorado e fervente, e então começar a se pentear um ao outro". Como legítimos políticos.

Não se vencem as disputas entre os chimpanzés só a dentadas e pontapés. A luta se decide no grito, que convoca o apoio da maioria. Se tiver apoio popular, um bom ibope, o vencedor nem precisa ser o mais forte, e muito menos ter razão no episódio. Leva no voto. Com isso, entre mortos e feridos, quase sempre se salvam todos, prontos para a festa de confraternização que preserva a integridade física dos rivais e a estrepitosa harmonia do conjunto.


Por Jornalista Claúdio Nunes



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