10/10/2008
"Eles procuraram votos de Lula, nós dos petrolinenses"
Do Diario de Pernambuco
Do anonimato para a prefeitura de uma das cidades mais importantes do estado. Essa foi a trajetória do médico Júlio Lóssio (PMDB), 37, eleito prefeito de Petrolina, no Sertão, no último domingo, com o apoio de quase 60% dos votos. Quando entrou na disputa, tinha apenas 1% das intenções de votos contra 70% de Gonzaga Patriota, que, além de ser bem conhecido na cidade, graças aos seus sete mandatos de deputado federal, contava com os apoios do governador Eduardo Campos (PSB) e do presidente Lula (PT). Apesar de todas as adversidades, o desconhecido oftalmologista venceu a guerra. Nesta entrevista ao editor de Política do Diario, César Rocha, e à repórter Paula Brukmüller, Lóssio garantiu que não terá problemas em firmar parcerias com os governos federal e estadual.Sua vitória pode ser atribuída a que fatores?Começamos uma campanha desacreditada pelos analistas políticos. Aí resolvemos buscar os votos das pessoas. Enquanto a oposição se preocupou em buscar os votos de Lula, que vota em São Bernardo do Campo (SP), e conquistar os votos de Eduardo Campos, que vota no Recife, nós nos preocupamos em buscar o voto dos petrolinenses, que vivem e conhecem a nossa cidade. Fizemos uma campanha de visitas, de caminhadas e propostas. Andávamos até seis horas por dia, indo à casa de cada cidadão, descobrindo os problemas e apresentando soluções. É uma vitória que se deve ao ex-deputado Osvaldo Coelho ou é uma vitória isolada?Não existe vitória isolada na política. Eu não conheço ninguém que tenha ganhado uma eleição sozinho. Nem o presidente Lula, nem o governador Eduardo Campos, ninguém consegue vencer só. Aqueles que tentam, acabam naufragando. Eu diria que o deputado tem uma importância grande porque enxergou nosso potencial quando poucos acreditavam. Historicamente, o deputado Osvaldo Coelho tem 30% dos votos de Petrolina. Nós tivemos 60%. Isso quer dizer que somamos forças com o deputado. Estou feliz porque tivemos o apoio da maioria das famílias de Petrolina, para juntos construirmos essa cidade que é bonita, é importante, mas tem um problema: cuida melhor de uva e de manga do que de gente.
Qual deverá ser a participação de Osvaldo Coelho na sua administração?As pessoas diziam que eu não iria ser candidato e eu fui. Diziam que eu não venceria a eleição e eu venci. As pessoas diziam que nós iríamos caminhar nos braços dos Coelhos e nós caminhamos com os Coelhos. Parte esteve comigo e parte esteve com Gonzaga Patriota. O deputado Geraldo Coelho, que historicamente era aliado do deputado Osvaldo Coelho, caminhou ao lado de Gonzaga Patriota. Essa resposta se dará na gestão. Eu entendo que nós vamos escrever uma nova história com uma nova caneta. Até porque eu não sou empregado, não sou parente, não sou funcionário do (ex-)deputado Osvaldo Coelho, mas tenho muito orgulho do apoio que recebo dele. As pessoas que tiveram a oportunidade de conversar com o (ex-)deputado sabem da grandeza de espírito público que ele tem. Sobretudo porque é um dos poucos políticos que sabe vencer e sabe perder e é um dos poucos que tem lado na política. Já temos o entendimento que vamos trabalhar olhando para as pessoas. E eu quero poder contar com o seu apoio (do ex-deputado), com a sua inteligência, com seu conhecimento da política e dos processos de gestão. Agora, é evidente que nós vamos ter toda a independência para governar a cidade. Como eu já disse, nós tivemos 60% dos votos. Tivemos uma vitória esmagadora, com mais de 25 mil votos acima do adversário. Isso nos dá autoridade para administrar com independência. Claro que independência não quer dizer distanciamento. Nós queremos estar perto das pessoas, caminhando, ouvindo as pessoas que nos colocaram no lugar onde nós estamos hoje.
O grupo de Fernando Bezerra Coelho, que administra a cidade e não apoiou Gonzaga terá participação na sua administração?O atual grupo é de oposição à minha administração. Nós nos elegemos por uma coligação e ele pertence à outra. Mas nós queremos fazer uma transição moderna, uma nova Petrolina. Tem uma tradição que diz que alguns prefeitos recebem uma herança maldita. Eu acredito que recebo a melhor herança, me orgulha muito receber a administração de Petrolina. Se ela está financeiramente bem ou não, este é um problema que nós todos vamos ter que resolver. Não adianta eu ficar aqui dizendo que a prefeitura está financeiramente bem ou mal, porque eu quis ser prefeito de Petrolina. Não posso reclamar. Então, a função será administrar bem a cidade, independente de como estejam hoje as suas contas. Eu espero que estejam bem, mas se não estiver é como um filho que se desvia. Nós não abandonamos o nosso filho só porque ele se desviou em algum momento da vida.
Como vai se relacionar com Fernando, secretário de Desenvolvimento Econômico?Petrolina é uma cidade que se desenvolveu muito mais pelas ações federais do que estaduais.São poucas as ações do estado, em todos os governos, que de fato contribuíram com o grande desenvolvimento de Petrolina. Nós estamos muito tranqüilos porque temos seis ministros no nosso partido (o PMDB) e vamos poder conversar com eles e com os outros também. Temos grandes pernambucanos ocupando espaços importantes hoje no governo federal. Petrolina é uma cidade que sempre reconheceu as obras federais como sendo mais importantes para ela. Eu acredito que continue sendo assim. Até porque, se você observar, todos os grandes investimentos que chegam a Pernambuco, a grande maioria chega para Suape e Região Metropolitana. Nós precisamos começar a discutir isso. Precisamos deixar de ter um estado macrocéfalo. As grande indústrias, as grandes empresas e os olhos dos governantes têm se voltado muito mais para a RMR do que para o Sertão e para o Agreste. Nós precisamos provocar o governo do estado para um olhar mais voltado para o homem e a mulher que vivem no interior.Mas esse é o discurso também do governador Eduardo Campos. Esse discurso realmente foi muito visto na campanha do governador. Como discurso, em Petrolina, nós não vimos ainda essa interiorização das ações. Nós queremos começar a fazer isso, por exemplo, descentralizando os recursos da saúde, centrados aqui na região do Recife. Nós só recebemos 3% dos recursos de alta complexidade, quando deveríamos receber 10%. Então esse discurso precisa se transformar em ação. Nós queremos uma grande parceria com o governador Eduardo Campos e com o presidente Lula, mas não de subserviência. Subserviência nós teremos ao povo de Petrolina, que nos elegeu.
O sr. conversou com o governador?Não. Assim que eu voltar do merecido descanso, nós vamos buscar iniciar o processo de transição e buscar audiências com os governantes.
O sr. faz parte de que grupo no PMDB, o dos ministros ou o da oposição a Lula?Eu me sinto do PMDB. Acho que a oposição e a situação existem em momentos eleitorais. Eu me sinto do PMDB. Tive uma conversa com (o deputado federal) Michel Temer e elese colocou à disposição. Eu tenho dito que nós precisamos descer do palanque. Agora é hora de administrar aquilo que o povo escolheu. Nos regimes ditatoriais, as coisas funcionavam assim. O presidente ditador escolhia o governador ditador, que escolhia os prefeitos ditadores. Nos regimes democráticos, o presidente escolhe seus ministros, o governador escolhe seus secretários e ao povo cabe escolher o prefeito da sua cidade. Estou muito tranqüilo em manter um bom relacionamento institucional com os governos federal e estadual. Nas próximas eleições, nós teremos outros palanques e certamente vamos lutar pelo nosso lado, porque eu venho de uma escola política que tem lado e nós queremos manter isso.
Quer dizer que em 2010 o seu lado não é o lado do presidente Lula?Quem sabe se Lula não vota num candidato do PMDB, né? (risos) Quem sabe, né?
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