quarta-feira, 1 de julho de 2009

Povo sofre e greve continua

Enquanto os servidores da Saúde do Estado estão em greve, a população sofre com a ausência de profissionais nas principais emergências e ambulatórios da Região Metropolitana do Recife (RMR). Ontem, no entanto, a mobilização, que ganhou a compreensão de usuários do sistema público de saúde, passou dos limites. Um apitaço promovido no hall da emergência do Hospital da Restauração (HR) tirou a paciência de acompanhantes e pacientes que chegavam ao hospital. A dona de casa Mirian Antão Dias, de 49 anos, que está com a tia internada no hospital, mostrava-se revoltada com a atitude dos servidores da saúde. “Isso que eles estão fazendo é um absurdo. Como é que eles só pensam no dinheiro deles? Eles estão judiando dos pacientes que estão aqui. Essa greve já passou dos limites”, disparou a dona de casa que se mostrava angustiada por não conseguir ver a tia. “Eles não querem cuidar dos doentes e não deixam a gente cuidar”, dizia indignada.
Segundo a professora Cícera Maria da Conceição, de 39 anos, a confusão gerada pelos servidores culminou em um bate-boca entre profissionais e acompanhantes de pacientes internados na emergência, quando eles prejudicaram a chegada de um paciente no hospital. “Se eles querem impressionar o governo, por que eles não vão para a rua? A gente não tem culpa do salário que eles ganham”, desabafou a professora que acompanhava a mãe que tinha acabado de receber alta e ficou muito nervosa com a situação.
E foi nas ruas que cerca de 600 servidores de Saúde participaram, ontem, de uma grande mobilização que pode ser considerada o ponto alto da greve da categoria, que já dura vinte e um dias. Em uma grande passeata, os profissionais seguiram do Hospital da Restauração até o Palácio do Campo das Princesas, onde uma comissão foi recebida por representantes das secretarias de Saúde e de Administração. O movimento, que ganhou força após a decisão do governo de congelar o salário dos grevistas, se mantém irredutível às pressões do governo e continua a greve por tempo indetermindo.
Desde o início da paralisação, no último dia 10 de junho, não houve qualquer avanço nas negociações junto ao Governo do Estado, que propôs um aumento de 0% à categoria. De acordo com o diretor financeiro do SindSaúde, Djailton Rodrigues, os servidores já não aguentam mais as diversas rodadas de negociação e os ínfimas resultados delas. “Já não aguentamos mais esse ‘bla bla bla’. Nós queremos que ouçam nossas reivindicações e que elas sejam atendidas”, disse o sindicalista, que garantiu ter entregue a pauta da categoria desde o começo do ano e que de lá para cá, nenhuma proposta favorável foi oferecida aos funcionários da Saúde do Estado.
As negociações junto ao governo continuam hoje. Uma reunião de representantes da categoria junto ao Secretários de Saúde, João Lyra Neto, e de Administração, Paulo Henrique Saraiva, está marcada para esta tarde. Discussões sobre concurso público, melhores condições de trabalho e produtividade do Sistema Único de Saúde (SUS), estão previstas para a nova rodada de negociações. A convocação da categoria chegou até os representantes do Sindicato dos Servidores da Saúde do Estado de Pernambuco (Sindsaúde) por meio de um documento que garantia o pagamento do salário até amanhã, caso a categoria retornasse ao trabalho.
Essa proposta, no entanto, não foi recebida com simpatia pelos profissionais que se mostram bem mais fortalecidos e que garantem a permanência da greve até que os pleitos da categoria sejam acatados pela gestão.”A greve continua, sem previsão de terminar. Agora, pode-se dizer que a greve, realmente, começou hoje. E isso é resultado da indignação que o próprio governador (Eduardo Campos) provocou na categoria”, declarou a presidente do SindSaúde, Perpétua Rodrigues, que participará da reunião junto ao Executivo, hoje, e em nova assembleia marcada para a tarde de amanhã, decidirá junto com a categoria os rumos do movimento.

Folha de Pernambuco

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