sábado, 24 de outubro de 2009

Sucessão 2010, Disputa Gerencial


Abelardo Baltar *
O tema desse artigo é sumamente complexo, pois aborda um fato social que até o presente momento é completamente imprevisível. A essas alturas, nesse final de ano de 2009, não se sabe ainda com certeza o quadro completo dos candidatos, e, muito menos, a “arrumação” do referido quadro. Não será uma eleição com fortes traços “ideológicos”, isto já se pode perceber, até porque a política brasileira dos dias de hoje, como acontece em quase todo o mundo, não vem caminhando nessa direção. Na verdade, as principais correntes políticas brasileiras trafegam num percurso misto, em que aparecem traços sociais democratas e traços liberais. Aceita-se, sem maiores contestações, uma política macroeconômica com tendências liberalizantes. Quase todo universo político-partidário é favorável a tal política. Já, no campo social, prevalece uma política de governo com marcantes traços sociais - democrata, aceita também por quase todo o universo partidário. Então qual seria o espaço para as divergências? A resposta é obvia, o gerencial. O tema “administração do Estado” se constituirá, não se tenha dúvida, no pano de fundo da disputa sucessória. Claro, pois apesar de toda modernização que vem ocorrendo na sociedade brasileira, nas últimas décadas, o gerenciamento do Estado vem sendo explicitamente muito falho.

O Estado se apropria de grande parte do PIB, cerca de 35%, e em contrapartida os serviços oferecidos a sociedade são de péssima qualidade, na grande maioria dos casos. Esse fato reflete claramente de como vem sendo ineficiente a administração pública no País. Aliás uma tradição brasileira de séculos. Tal ineficiência administrativa vem prejudicando muito a imensa maioria da população, pois a mesma depende bastante dos serviços públicos para melhorem sua qualidade de vida. Além disso, puxa para baixo a taxa de investimento da economia do País, o que restringe bastante a sua capacidade de crescer. Com o passar do tempo, e considerando também a cada vez maior influencia dos meios de comunicação, o clamor da sociedade por um melhor gerenciamento do Estado assumiu proporções gigantescas. É num quadro com essa característica que ocorrerá a sucessão presidencial. Não é por acaso que os dois principais pré- candidatos, o do Governo e o da Oposição, têm um perfil tipicamente gerencial. Dilma e Serra não possuem maiores carismas. Sempre foram gerentes e se propõem assim continuar, caso cheguem a Presidência.

A entrada de Ciro Gomes e Marina no processo sucessório pode quebrar, um pouco, a ômonotoniaö decorrente de uma disputa puramente gerencial. Claro que as questões gerenciais não sairão do centro do debate, até porque representam a principal demanda da população e, por isso, se constituem prioridades na pauta de discussões da sociedade brasileira dos dias atuais. Uma sociedade que vem se modernizando cada vez mais rapidamente, entretanto que encontra num Estado extremamente “desarrumado” uns dos mais sérios limites a velocidade dessa modernização. A presença de Ciro e Marina incluirão, provavelmente, outros temas importantes na disputa, sobretudo no que diz respeito as questões pertinentes ao meio ambiente e as ligadas ao desenvolvimentismo. Esses temas poderão ter um certo relevo na campanha, entretanto, repito, o tema central será o do Gerenciamento do Aparelho do Estado. Isto posto, a grande indagação é saber se Lula vai conseguir, com sua imensa popularidade, transferir muitos e muitos votos para sua candidata de perfil burocrático? Ou se Serra vai impor nas eleições o seu já testado sucesso como administrador? O Presidente acha mais fácil realizar a tal transferência caso a eleição ganhe um caráter de plebiscito (nós contra eles, eles = a oposição). Daí a Candidatura Ciro, para os adeptos de Lula, representar um fator negativo.

* Economista.

Nenhum comentário: