“A tradição de comer peixe na Sexta-feira Santa não é uma obrigação cristã”. A declaração é do padre Manoel de Oliveira Filho, assessor da Arquidiocese de Salvador. Segundo ele, a Igreja Católica recomenda o jejum associado a atos de caridade durante a Páscoa, e o hábito de consumir o pescado tem raízes “culturais e mercadológicas”. Mesmo assim, o baiano ainda aumenta o consumo do produto durante o período com muita criatividade devido ao preço salgado cobrado pelo bacalhau este ano. De acordo com Pe. Manoel, o jejum na Sexta-feira Santa não diz respeito apenas aos hábitos alimentares. “É uma forma de abdicar de algo que gostamos em prol da caridade. Quem adora televisão, por exemplo, e assiste a três horas de programação por dia, pode passar esse tempo visitando doentes em hospitais ou idosos nos abrigos”, exemplificou. Pe. Manoel explica como surgiu a tradição de comer bacalhau na Semana Santa. “Nós não vivemos numa sociedade católica, e muito menos cristã. Então, o mercado se aproveita das tradições religiosas para incrementar a venda de seus produtos”, disse. Tradição religiosa ou não, comer bacalhau é um hábito enraizado na cultura popular do baiano, como conta a professora aposentada Judith Bispo dos Santos, 63 anos. “Lá em casa tem sempre bacalhau na mesa durante a Semana Santa. Se o produto estiver muito caro, a gente compra menos, faz uma fritada, mistura o peixe com verduras e vai inteirando”. Os preços dos pescados já estão realmente mais salgados. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o quilo do bacalhau subiu 4% com relação ao mês de janeiro, enquanto os peixes em geral subiram 10%. O gerente Jorge Lima, responsável pela seção de pescados de uma das filiais da rede de supermercados Extra, conta que o movimento de vendas já cresceu. “O mês de março vai ser muito forte, porque a Sexta-feira Santa cai no dia 10 de abril. Nós já sentimos o crescimento na venda de frutos do mar desde a quarta-feira de cinzas”, conta. Para outros, o bacalhau pode ser substituído por peixes mais baratos. Essa é a opinião do técnico em manutenção Aílton Brito, 40 anos, que fazia compras com a família na tarde de ontem. “O cardápio da Semana Santa vai depender do preço do bacalhau. Se estiver muito caro, vamos substituir por outros peixes mais em conta. Só não vale comer carne. Isso já é uma tradição de gerações em minha família”, conta. A professora Maly dos Santos, 63 anos, concorda com Aílton. “Carne vermelha ou frango na Semana Santa, nem pensar. São coisas que aprendemos com nossos pais e transmitimos aos nossos filhos e netos. Sou católica praticante e tento seguir à risca os hábitos cristãos”.
Tribuna da Bahia
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