quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Agora é cinzas e a vida recomeça



Estávamos no regime militar e uma revista semanal (Veja ou Manchete, não lembro bem) botou na capa uma foto do general Costa e Silva solitário e o título “O carnaval acabou. Façam a crise, senhores.” Como se a folia tivesse sido uma trégua que agora dava lugar à guerra.
Deve ter sido. A ditadura fechava as portas à participação de civis na cena política, mas abrigava em seu seio – no Estado Maior das Forças Armadas principalmente – a luta renhida pelo controle da máquina do Estado, nem sempre dissimulada ou restrita à caserna.
Agora que respiramos democracia, mesmo defeituosa e elitista, as coisas acontecem às claras. O jogo do poder transcorre na esquina mais próxima e nas páginas dos jornais – ora em termos elevados, ora pelas vias deploráveis de acusações pessoais, intrigas, traições e quejandos. Mas numa coisa há semelhanças com os sombrios tempos ditatoriais: o carnaval continua sendo uma referência do antes e depois, no que se refere à luta política e a muitas outras coisas importantes da vida do país e cá da província.
Isso vale sobretudo para Pernambuco, onde em alguns lugares a festa já começa no primeiro dia de janeiro – Olinda, então, nem se fala – e só termina no próximo domingo. Tudo o que aconteceu antes terá sido apenas uma tosca prévia do que agora vem pra valer.
Pois bem. Hoje é quarta-feira de cinzas e ainda tem carnaval rolando por aí. Mas a vida real abre o seu espaço. Em tudo. Da crise mundial aos conflitos no campo brasileiro e às démarches para o pleito de 2010.
O presidente Obama, no seu Discurso à Nação, estreando no parlamento norte-americano, ontem (lá não tem carnaval), disse que "chegou o momento de abrir os olhos" e assumir a responsabilidade pelo futuro do país diante da crise econômica e pediu leis mais fortes para controlar a especulação e o sistema financeiro dos Estados Unidos. Uma mea culpa com todas as letras em nome do império do norte.
Aqui pertinho de nós o MST informa que os trabalhadores que participaram do confronto que causou a morte de quatro capangas do proprietário, sábado, em São Joaquim do Monte, abandonaram a fazenda ocupada. É a ponta do iceberg de um conflito histórico que está longe de acabar em nosso país.
E na política o que se viu durante a algazarra de Momo foi apenas o desfile de parte dos atores mais ativos na cena, aqui e alhures. Uns porque sempre brincaram o carnaval, são filões de quatro costados; outros na esperança de ganharem um pontinho a mais na preferência do eleitorado.


Escrito por Luciano Siqueira, vereador do P C do B (Recife-PE)

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