O ex-prefeito João Paulo (PT) deixou de lado o estilo zen e partiu para o ataque, ontem, contra senador Sérgio Guerra (PSDB). Em resposta às recentes declarações do tucano, que o excluiu das pretensões governistas para o Senado, João Paulo provocou o adversário e disse que ele teria “receio” de enfrentá-lo. De acordo com o petista, para tirá-lo da disputa, Guerra teria de “mandar no PT, ou mandar no governador, ou mandar no presidente Lula”. Ele também dispara contra o DEM, acusando a legenda de tentar inviabilizar administrativamente o Governo João da Costa (PT) para, em seguida, fragilizar a gestão no campo político. Nesta entrevista, João Paulo também enumera as duas “dificuldades menores” que identificou nos 100 primeiros dias de governo do afilhado político.
Como o senhor avalia os 100 primeiros dias do Governo João da Costa?
Nós viemos de uma disputa eleitoral muito acirrada. Então, passar para 12 anos, eles (da oposição) sentiram uma ameaça muito grande. Eu acho que, primeiro, João da Costa teve que tomar um tratamento de choque. Ou seja, sair da condição de secretário para ser prefeito. Isso é uma mudança significativa na vida de qualquer um. E, com a queda da arrecadação, ele tomou conta do cenário, fez uma prospecção, segurou algumas coisas, bateu uma radiografia da situação e do impacto na queda da receita e montou uma estratégia, a meu ver, extremamente positiva. Está dando continuidade a todas as obras que nós iniciamos. O governo teve duas dificuldades, que não comprometeram a sua imagem, nem a imagem da continuidade, que é tão importante. Foi a questão da alteração na orla (de Boa Viagem), que se teve um pouco de dificuldades, e o processo da limpeza, a partir da renovação do contrato com a Qualix. Foram dois problemas menores, pontuais.
O que senhor tem a dizer das críticas, feitas pela oposição, de que o prefeito João da Costa ainda não deu uma cara própria a sua gestão?
João tem sua marca, sua cara, que é desconhecida ainda. Agora é que está se tornando mais conhecido o jeito dele e a forma dele. Então ‘João é João’ e ‘João não é João’. João é a continuidade do projeto político. Agora, João, enquanto pessoa, tem as suas diferenças, suas qualidades.
O senhor acha que a oposição está pegando demais no pé do prefeito?
Tem pegado demais. Eles pegaram esse primeiro momento na tentativa de desestabilizar o governo para ver se o governo não se arruma mais. Inclusive, não deram nem a trégua dos 100 dias. Querem inviabilizar para que o governo dele não tenha sucesso.
As constantes tentativas do DEM de embargar judicialmente o governo fazem parte dessa suposta estratégia, em sua avaliação?
Na verdade, eles querem inviabilizar administrativamente para ver se conseguem inviabilizar politicamente. A meu ver, há um esforço no sentido de... A essência é a desestabilização. Tive 88% de avaliação positiva, 77% de ótimo e bom. É um desafio grande (desestabilizar a gestão), também, né?
O encontro com o secretário estadual das Cidades, Humberto Costa (PT), já está marcado?
Não, vamos conversar. A minha ideia é conversar a partir de maio.
O que será discutido na conversa com Humberto?
Acho que vamos conversar sobre o cenário, né? Como nós estamos hoje, o PT. As perspectivas para o ano que vem...
Como o senhor está se preparando para 2010?
Viajar o Estado eu começo hoje (ontem). Estou indo a Garanhuns, com o (deputado federal) Armando Monteiro Neto (PTB) para o festival de música. Daremos uma circulada lá e eu vou entregar a premiação... O deputado (estadual) Izaías Régis (PTB) me convidou no início do ano. Depois vou a Petrolina.
Essas viagens têm como objetivo fortalecer seu nome no Interior?
Eu viajei muito ao interior do Estado. O povo, às vezes, não lembra, né? Fui deputado estadual durante dez anos, por três mandatos - em dois deles, fui o mais votado. Então, eu tinha uma relação grande com muitas cidades do Interior. Mas a Prefeitura do Recife me absorveu muito. Depois da administração do Recife, a Frente Nacional dos Prefeitos. A tendência, agora, é eu voltar a circular no Estado como um todo.
Essa sua viagem com Armando Monteiro Neto a Garanhuns é um prenúncio da chapa governista que concorrerá ao Senado?
(tempo pensando) Izaías Régis é um deputado muito ligado a Armando Monteiro. Então, ele me convidou e convidou Armando.
Foi uma coincidência, então?
Hum?
Foi uma coincidência?
Coincidência política (risos).
O senhor declarou, há alguns dias, que poderia abrir mão de concorrer ao Senado para tentar um mandato de deputado federal. Como é que está essa situação?
Essa situação está aí. Vamos, agora, deixar o cenário se consolidar para o ano, né? Porque o cenário daqui de Pernambuco, a meu ver, será balizado pelo cenário nacional. Senador é uma candidatura majoritária, então tem que ter as condições de uma candidatura majoritária.
O seu nome reúne essas condições para concorrer?
Hoje, nós reunimos essas condições.
O senador Sérgio Guerra disse que o senhor está fora da chapa governista que disputará o Senado. A informação procede? O senhor acha que ele deu essa declaração baseado em alguma articulação?
Pior é que eu sei, só não vou falar. Ao que parece - pelo que ele disse - ele tem o receio de me enfrentar para o Senado. Ele não manda no PT, ele não manda no Governo do Estado, ele não manda no presidente Lula. Então, o que é que dá essa certeza? Ele teria quer mandar no PT, ou mandar no governador, ou mandar no presidente da República, ou então ter medo de um enfrentamento numa disputa eleitoral. Bote essas quatro (respostas). Dá para botar?
O senhor acredita que, numa disputa com Sérgio Guerra, o senhor sai ganhando?
Não sei. Eleição é eleição. Ele coloca isso, só pode ser receio de me enfrentar.
Na hipótese de o PT lançar Dilma Rousseff para presidente e o PSB lançar o deputado federal Ciro Gomes, o senhor poderia sair para o Governo do Estado, já que Eduardo Campos teria que, por obrigatoriedade da legislação, estar no palanque socialista?
Em momento algum. Acho que não existe essa possibilidade de termos duas candidaturas no âmbito nacional. Não é essa a conjuntura. Acho que a candidatura de Dilma precisa de um grande leque de alianças para elegê-la no primeiro turno. O que eu acho que Ciro diz é uma tese equivocada. O que ele está querendo é garantir é o segundo turno e eu acho que essa é uma estratégia equivocada: querer a realização do segundo turno. O que nós estamos querendo é lá e cá ganhar no primeiro turno.
Mesmo se, do outro lado, estiver o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) como candidato a governador? Como o senhor vê essa articulação?
Independente. Eu acho que nem com Jarbas. Se a gente mantiver essa chapa, ganharemos no primeiro turno. O que me parece é que eles estão sem nomes. O único nome que eles colocam é Jarbas, que já manifestou diversas vezes que não tem interesse em disputar. Até inventar nome eles estão fazendo. Não tem um quadro entre eles que ameace a candidatura de Eduardo. Só Jarbas chega perto.
E o deputado federal Raul Henry (PMDB)? Já se falou no vereador do Recife Daniel Coelho (PV)...
Falaram, mas nem sequer citam mais o nome dele (Raul). Os nomes que seriam mais esperados pela prática seriam ou Raul, pela disputa no Recife, ou Mendonça (Filho, do DEM), pela disputa no Recife e no Governo do Estado (em 2006). Mas, só falaram em Raul... Soltaram um balão de ensaio e viram que não subia nada. Inventaram agora o (executivo) Marco Magalhães.
Quem o senhor prefere ver disputando a Presidência pela oposição, o governador José Serra (PSDB/SP) ou o governador Aécio Neves (PSDB/MG)?
São nomes fortes. Mas eu acho que Aécio ameaçaria mais do que Serra, não só porque é mineiro (risos), mas porque Serra eu acho que já é uma figura com um nível de antipatia grande. Já se conhece um pouco mais algumas posturas deles. Acho que será mais fácil derrotar Serra, por isso estou querendo que ele seja candidato (risos).
Qual o saldo de sua atuação no comando da Frente Nacional dos Prefeitos?
Quando assumi a Frente, tivemos conquistas significativas, a partir do Governo Lula. Conseguimos dar uma vida legal à entidade, com um estatuto. Saudei os débitos e deixei a Frente com R$ 600 mil em caixa. A Frente foi fundamental para aprovação, no Congresso, de emenda constitucional, que passou de 22,5% para 23,5% o FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Tivemos a liberação de R$ 1 bilhão para os municípios, achei muito importante.
Folha de Pernambuco
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