quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ministros batem boca durante sessão do STF



O ministro Joaquim Barbosa, especialista em brigas de plenário com os colegas do Supremo Tribunal Federal (STF), radicalizou ontem sua postura e transformou-se em personagem de um bate-boca sem precedentes na história da Corte. Em 13 minutos, quando a sessão do tribunal caminhava para o encerramento, Barbosa transformou uma cobrança de informações do presidente do STF, Gilmar Mendes, em uma agressão verbal que levou os demais ministros a fazerem uma reunião extraordinária para tratar do bate-boca - Barbosa foi embora do tribunal e não participou. O confronto começou quando o tribunal analisava recursos em que era discutido se as decisões, sobre benefícios da Previdência do Paraná e sobre foro privilegiado, tinham ou não efeito retroativo. Essas decisões haviam sido tomadas em sessões em que Barbosa faltou aos julgamentos - estava de licença. Veja abaixo a transcrição da discussão dos ministros.

Gilmar Mendes

É a prova que é preciso embargos de declaração nesse tipo de matéria.

Joaquim Barbosa

No caso anterior era embargos de declaração para dar aposentadoria a notários. Aqui, embargos de declaração para impedir o desfazimento...

Mendes

O tribunal pode aceitar ou rejeitar, mas não com o argumento de classe. Isso faz parte de impopulismo judicial.

Barbosa

Eu acho que o segundo caso prova muito bem a justeza da sua tese. Mas a sua tese ela deveria ter sido exposta em pratos limpos. Nós deveríamos estar discutindo ...

Mendes

Ela foi exposta em pratos limpos. Eu não sonego informação. Vossa Excelência me respeite. Foi apontada em pratos limpos.

Barbosa

Não se discutiu a lei...

Mendes

Se discutiu claramente.

Barbosa

Não se discutiu


Mendes

Se discutiu claramente e eu trouxe razão. Vossa Excelência... Talvez Vossa Excelência esteja faltando às sessões.

Barbosa

Eu não estou...

Mendes

Tanto é que Vossa Excelência não tinha votado. Vossa Excelência faltou a sessão.

Barbosa

Eu estava de licença, ministro.

Mendes

Vossa Excelência falta a sessão e depois vem...

Barbosa

Eu estava de licença. Vossa Excelência não leu aí. Eu estava de licença do tribunal.

Mendes

Portanto...

Mendes

Ministro Direito rejeita...

Mendes

E não teve outro caso, se não me engano do Rio Grande do Sul, em que o tribunal - não sei se era matéria de concurso ou coisa assemelhada - em que se discutiu também em embargos de declaração porque o próprio tribunal do Rio Grande do Sul fazia advertência das consequências, e o tribunal houve por bem rejeitar os embargos, mas não os disse inadimissíveis.

Mendes

Portanto, após o voto do relator que rejeitava os embargos, pediu vista o ministro Carlos Britto. Eu só gostaria de lembrar em relação a esses embargos de declaração que esse julgamento iniciou-se em 17/03/2008 e os pressupostos todos foram explicitados, inclusive a fundamentação teórica. Não houve, portanto, sonegação de informação.

Barbosa

Tá bem claro.

Barbosa

Eu não falei em sonegação de informação, ministro Gilmar. O que eu disse: nós discutimos naquele caso anterior sem nos inteirarmos totalmente das consequências da decisão, quem seriam os beneficiários. E é um absurdo, eu acho um absurdo.

Mendes

Quem votou sabia exatamente que se trata de pessoas...

Barbosa

Eu chamei a atenção de vossa excelência.

Barbosa

Só que a lei, ela tinha duas categorias.

Barbosa

Tinha uma vírgula e, logo em seguida, a situação de uma lei. Qual era essa lei? A lei dos notários. Qual era a consequência disso? Incluir notários nos regimes de aposentadorias de servidores ...

Mendes

Porque pagaram por isso durante todo o período e vincularam...

Barbosa

Ora, porque pagaram...

Mendes

Se vossa excelência julga por classe, esse é um argumento...

Barbosa

Eu sou atento às consequências da minha decisão, das minhas decisões. Só isso.

Mendes

Vossa excelência não tem condições de dar lição a ninguém.

Barbosa

E nem vossa excelência. Vossa excelência me respeite, vossa excelência não tem condição alguma. Vossa excelência está destruindo a Justiça desse País e vem agora dar lição de moral em mim? Saia à rua, ministro Gilmar. Saia à rua, faz o que eu faço.

Barbosa

Vossa excelência não tem nenhuma condição.

Mendes

Eu estou na rua, ministro Joaquim.

Barbosa

Vossa excelência não está na rua não, vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro. É isso.

Barbosa

Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso.

Mendes

Ministro Joaquim, vossa excelência me respeite.

Barbosa

Digo a mesma coisa.

Barbosa

Também acho. Falei. Fiz uma intervenção normal, regular. Reação brutal, como sempre, veio de vossa excelência.

Mendes

Não. Vossa excelência disse que eu faltei aos fatos e não é verdade.

Barbosa

Não disse, não disse isso.

Mendes

Vossa excelência sabe bem que não se faz aqui nenhum relatório distorcido.

Barbosa

Não disse. O áudio está aí. Eu simplesmente chamei a atenção da Corte para as consequências da decisão e vossa excelência veio com a sua tradicional gentileza e lhaneza.

Mendes

É vossa excelência que dá lição de lhaneza ao Tribunal. Está encerrada a sessão.


Folha de Pernambuco

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