segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Olinda: Luciano Siqueira vai manter membros da equipe de Luciana

24/11/2008
“Vou manter parte da equipe de Luciana”

MAGNO MARTINS
Eleito prefeito de Olinda logo no primeiro turno, o deputado comunista Renildo Calheiros (PCdoB) ganhou fama de político articulado no plano nacional, mas está se revelando, agora, também um executivo com vocação mineira, ou seja, de esconder o jogo e costurar seu governo em silêncio. Em Brasília, nem seus colegas de parlamento conseguem tirar dele a revelação de um nome da equipe que está montando em segredo. Mas, nesta entrevista exclusiva, o novo prefeito olindense confessa algo que até as ladeiras da Marim dos Caetés já sabiam: manterá parte dos secretários que hoje servem à prefeita Luciana Santos. “É difícil arranjar nomes novos e bem-sucedidos no setor privado com os salários baixos pagos em Olinda”, justifica.
Em que condições, do ponto de vista financeiro, o senhor recebe a Prefeitura de Olinda?
Olinda tem sempre um orçamento apertado, porque é um município que arrecada muito pouco. Tem muitos problemas de infra-estrutura e é uma cidade difícil de ser governada. A prefeita Luciana Santos, entretanto, fez um excelente planejamento, ajustou as contas e inseriu a cidade em vários projetos de desenvolvimento. Embora o município disponha de poucos recursos, creio que recebo a Prefeitura como nenhum outro governante recebeu. Espero que a crise financeira, que está fazendo desaparecer os créditos, passe logo, e não tenha grandes repercussões no Brasil, porque nós dependemos muito de investimentos federais e estaduais. Se esses investimentos forem reduzidos, teremos grandes prejuízos.
O senhor já escolheu algum nome para compor o secretariado?
Ainda não. Nós temos em Olinda uma transição pacífica e harmoniosa. Como a Prefeitura tem muitas obras em andamento, prefiro que o Governo execute o máximo que puder. Por isso, acho que antecipar a discussão da composição da minha equipe atrapalharia o andamento da atual gestão. Pretendo tratar desse assunto em meados de dezembro.
Com isso, o senhor não está querendo também evitar pressões dos partidos aliados que ainda não têm representação no Governo municipal?
O secretariado de Luciana é muito bom, mas um governo novo precisa injetar sangue novo. Pretendo montar um governo com os partidos que me ajudaram a vencer a eleição. Quero aproveitar algumas pessoas do atual governo e convocar algumas caras novas. Em Olinda, nós temos uma grande dificuldade, porque os salários de secretários não são atrativos. Assim, tirar um bom executivo da iniciativa privada fica difícil. As pessoas que têm topado assumir funções importantes em Olinda assumem uma característica de renúncia elevada, porque acabam tendo, ao final, sérios prejuízos financeiros e fazem isso por compromisso com o desenvolvimento do município. Precisam ser reconhecidas e valorizadas. Devo, portanto, muita atenção a elas. Para se ter uma idéia, tivemos um secretário em Olinda que trabalhou mais de sete anos na gestão de Luciana com um salário de R$ 4 mil brutos. Ele é procurador do Recife e estava deixando de receber rendimentos da ordem de R$ 20 mil. Se você multiplicar a diferença de um salário com o outro, esse cidadão tomou um tremendo prejuízo. Por isso, destaco o grau de desprendimento e dedicação dessas pessoas.
Dá para sentir, então, que o senhor vai manter boa parte da equipe de Luciana, não é?
Boa parte, não, mas uma parte sim. Várias pessoas estão realizando projetos que não foram concluídos ainda e elas são a memória administrativa da cidade. Ficar sem elas seria perder mais de um ano para que as outras pessoas tomassem conhecimento detalhado daquilo que está em andamento.
Dá para antecipar algum nome?
Infelizmente, não. Estou numa fase ainda de conversação com os partidos e as pessoas.
O que está no projeto da sua gestão para ser o diferencial em relação ao governo de Luciana?
Nós vamos dar seqüência às obras que ela iniciou e iniciar as que estão planejadas. Várias delas são obras que vão mudar muito a cidade de Olinda. Uma delas é a urbanização do restante da orla nos trechos de Casa Caiada e Rio Doce. Outras são os canais de Bultrins, Fragoso e Rio Doce com uma avenida margeando o canal de Rio Doce e Fragoso até a PE-15. Isso vai dar uma alternativa de trânsito para toda a área norte da cidade e aliviará a situação desses bairros no período de chuvas. Outra obra importante é a construção do estádio de futebol na avenida Brasil em Rio Doce. Vamos, também, lançar o mais ousado programa de calçamento de ruas que a cidade já viu e, por fim, realizar grandes investimentos nas áreas da cultura do esporte.
Como deputado, o senhor foi o principal responsável pela chegada de recursos federais na gestão de Luciana, até pelo seu prestígio com Lula. Agora, como prefeito, Lula tem mais razões de injetar mais dinheiro em Olinda?
O presidente Lula tem sido muito generoso com Olinda. Além dos projetos do PAC, que já foram aprovados no município, estou lutando por mais três e temos alguma chance de conseguir aprová-los. Mesmo sem o mandato de deputado a partir de janeiro, tenho uma boa relação com vários ministros e alguns deles o compromisso de continuarem ajudando a cidade. Minha grande preocupação é com a extensão da crise, que nós precisamos que passe logo, para não ocorrer uma retração nos investimentos federais. Para o ano de 2009, aproveitei o fato de Olinda ter concluído a eleição no primeiro turno e passei os meses de outubro e novembro articulando mais recursos para o município. Uma parte deles será votada agora em dezembro para o orçamento do ano que vem, mas as emendas já foram apresentadas.
Esse fato de Olinda perder o único representante no Congresso angustiava o senhor antes de decidir sair candidato. E como prefeito, não vai ser difícil ficar sem um aliado da cidade como deputado?
Na verdade, sempre contamos com a solidariedade da bancada de Pernambuco, que sempre apoiou, na medida do possível, todas as iniciativas que tomamos. Vários deputados, inclusive, colocaram emendas para Olinda e somos gratos a eles. Tenho o compromisso da bancada de continuar ajudando a cidade e a primeira demonstração disso foi dada este ano, quando os deputados aprovaram uma emenda de bancada exclusiva para Olinda no valor de R$ 40 milhões. Antes de decidir pela candidatura, conversei sobre o assunto com o governador Eduardo Campos, o presidente Lula e vários ministros, tendo contado com o estímulo deles no sentido de Olinda continuar sendo incluída nos programas do Governo do Estado e do Governo Federal. Estou certo de que contarei com o apoio deles.
Em relação à representação de Olinda na Câmara, sua vaga pode ser ocupada, daqui a dois anos, pela prefeita Luciana?
Ainda não conversamos sobre isso. 2010 ainda está muito longe, mas essa é uma das possibilidades.
O senhor não tem esse compromisso com a prefeita?
Nós sempre discutimos muito os projetos e Luciana sabe que conta comigo, mas 2010 nós ainda vamos conversar.
Não seria ela a candidata natural de Olinda e das forças que apoiaram sua eleição para prefeito?
Creio que a experiência de termos um deputado federal que trabalhe dia e noite por Olinda foi positiva. Basta visitar a cidade para se constatar isso. Esse processo vai deixar muitas lições. Estou convencido de que a representação política que Olinda conquistou em Pernambuco e no Brasil não pode ser perdida, mas isso precisa ser feito de maneira harmoniosa e debatida para que seja um projeto de muitos e, sendo assim, vitorioso.
O governador Eduardo Campos tem chances de ser alçado ao plano nacional em 2010?
Acho que sim. O governador Eduardo Campos é uma liderança jovem e muito respeitada. É, também, apesar de jovem, um político já experiente. O Brasil precisa renovar as suas lideranças e não tenho dúvida de que ele terá um grande papel pela frente. Contudo, entendo que Pernambuco precisa ser bem resolvido e o ponto de partida é o fortalecimento dele como liderança política. Com o Estado bem equacionado, poderemos participar da disputa presidencial, mas ele tem todas as condições de se reeleger e acho que isso precisa ficar bem administrado para dar tranqüilidade na condução política, porque a disputa presidencial depende de muitos fatores que fogem ao nosso controle. Por isso, precisamos de muita cautela na discussão da chapa majoritária estadual, porque se estivermos desarrumados nossas chances se reduzirão.
No caso de Eduardo vir a ser candidato a presidente ou a vice de Dilma, João Paulo se transformaria no candidato natural a governador das forças que estão hoje no poder estadual?
Nosso candidato natural é Eduardo. Ele terá o meu apoio para disputar à reeleição. Acho que isso deve ser fixado publicamente, para que a condução política seja feita de maneira tranqüila e sem maiores problemas dentro da Frente. Se essa possibilidade surgir, então discutiremos, mas essas especulações não ajudam, porque acabam atraindo muitos malassombros. O que está posto é que teremos um candidato a governador, um candidato a vice e dois candidatos ao Senado. Temos várias lideranças habilitadas e com legitimidade para compor essa chapa, mas precisamos de uma condução política correta, para que ninguém se sinta excluído ou desconsiderado. Acho, portanto, que devemos deixar fixado apenas que o candidato a governador será Eduardo Campos. Embora em eleição nada seja garantido, há um ditado popular que pode ilustrar bem essa situação: o povo diz que mais vale um pássaro na mão do que um bando de pássaros voando. O que está no nosso horizonte no momento é a eleição de governador”.

Folha de Pernambuco

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