domingo, 23 de novembro de 2008

Entrevista - João da Costa, Prefeito eleito do Recife


“O Recife julgou a política”


O prefeito eleito do Recife, João da Costa (PT) continua o sigilo quanto aos escolhidos para compor seu secretariado e justifica que quer manter uma “margem” para as escolhas. Ao falar sobre todo o processo que culminou em sua eleição, o petista garante que “nunca existiu poste” e garante que a “descrença” em sua candidatura partiu de pessoas que queriam atingir o seu padrinho político, o prefeito João Paulo. Mesmo enfrentando processos de campanha, com o julgamento de um deles marcado para amanhã, ele garante estar tranqüilo e ressalta que as disputas políticas, no Brasil, estão sendo levadas constantemente para a “judicialização”.


Em que momento João Paulo fez o anúncio: João da Costa, você será o candidato?
A articulação não foi dessa forma. Foi um processo que a gente estrategicamente sempre foi discutindo, a possibilidade de dar continuidade a um projeto na cidade do Recife e quais eram as alternativas. Em 2006, na eleição de deputado estadual, o João Paulo citou que se fosse escolher um candidato para continuar esse projeto, escolheria entre mim, Lygia (Falcão) ou Múcio (Magalhães). Ele até disse que a de maior proximidade era Lygia, mas que ele achava que eu poderia ser um potencial candidato.

Qual a foi a estratégia adotada naquele momento?
Partimos do princípio que o PT deveria ter candidato, pelo sucesso da gestão. Dentro do PT, alguém que fosse relacionado ao núcleo político que estava governando, mais ligado a João Paulo. Depois afunilou para o meu nome, que teria que ser viabilizado, primeiro no PT e depois fora do PT. Foi se construindo ao longo do processo, ao longo de quatro anos praticamente.

No início do processo, aliados do próprio PT, muitos declararam a descrença pela candidatura do senhor. Qual era o sentimento naquele momento e, qual o sentimento hoje?
O sentimento naquele momento, eu achava, que os outros desconheciam o potencial que a gente tinha. Da forma que foi colocado era um sentimento de desqualificação. Fazia parte de uma disputa de desqualificar um candidato, que era o candidato de João Paulo. Naquele momento eu disse que era mais um ataque a João Paulo, quando me atacavam. Não estava relacionado com o sentimento da população nem naquele momento, nem depois. Eu sabia o que tínhamos construindo politicamente. Havia um trabalho construído, uma gestão vitoriosa, uma liderança de João Paulo e o PT muito bem avaliado no Recife. Aquilo (descrença) fez parte de um momento de disputa interna, de quem representaria esse campo político na disputa da Prefeitura. Acho que não aconteceu da melhor forma, poderia ser dado de outra forma mais qualificada politicamente. Mas não guardo nenhum ressentimento, nem carrego nada disso que aconteceu. Estou preocupado com o futuro agora.

Como foi a experiência de passar pelos ataques dos adversários? Chegaram a chamá-lo de “poste”.
Foi um processo de amadurecimento. Os adversários, no primeiro momento, subestimaram nossa candidatura por desconhecer o trabalho que a gente vinha fazendo ou até a capacidade política do candidato. Isso os levou a adotar uma postura inicialmente de desqualificar. Isso não surtiu efeito, porque não estava relacionado com o que construí na minha relação com a população.

Isso quer dizer que João Paulo não elegeu um “poste”. E sim, que o candidato mostrou que não era “poste”?
Nunca existiu poste. Não podemos tratar na política ninguém com esse tipo de adjetivo. Qualquer candidato, ou qualquer militante na política tem que ser tratado a partir de suas idéias, do seu trabalho militante e o que se propõe a fazer. Cabe à população julgar. O processo do debate político, quando vai pra desqualificação, a sociedade já mostrou que não tem aderência a esse tipo de disputa que é feita.

Durante a campanha algumas ações judiciais foram impetradas contra o senhor. Qual a avaliação dessas denúncias e qual a expectativa para o julgamento de uma delas amanhã?
No processo da disputa política, e isso está acontecendo no Brasil, quando não se resolve na política está se procurando a judicialização. Uma coisa é o Ministério Público e a Justiça poderem exercer seu controle no processo eleitoral para que as regras e que o processo de disputa democrática possam ser iguais para todo mundo. Isso é uma coisa. A outra é na disputa política se usar instrumentos judiciais para poder resolver o debate político. A sociedade do Recife julgou a política, julgou os projetos e nos elegeu independente do tipo de denúncia que foi feitas. As denúncias que são feitas cabem à Justiça apurar e julgar, e nós temos feito nossas defesas. Toda nossa trajetória foi de respeito às regras do jogo. Em nenhum momento houve por parte do candidato João da Costa, nem da Frente, nem dos partidos, nem de quem estava no comando da campanha, posturas que infringissem as normas e a Legislação Eleitoral. Em um processo amplo como é uma campanha, uma ação de um militante isolado, de alguém que toma uma determinada posição, não pode ser encarada como uma decisão de coordenação de campanha ou pratica política que a gente teve. Estamos muito tranqüilos com relação a esse processo que vai ser julgado segunda-feira (amanhã).

Qual sua avaliação da declaração de Raul Henry (PMDB) que utilizou o termo “criminoso”? Ficou alguma mágoa?
Foi uma infelicidade de Raul Henry naquele momento. Conheço a postura e trajetória dele. Não foi o objetivo dele me criminalizar. O processo pode ser julgado e a pessoa pode ser inocentada. Um processo não quer dizer que você seja um criminoso. No nosso caso, não tinha crime cometido e muito menos um julgamento realizado. Foi uma infelicidade do debate que aconteceu e pra mim está encerrado isso.

A campanha majoritária mostrou-se vitoriosa, mas o que aconteceu com a campanha proporcional? A redução de vereadores do PT na Câmara de Vereadores?
Na verdade, toda a base que nos apoiou foi amplamente vitoriosa. A coligação proporcional que me apoiou elegeu 25 vereadores. O PT é que teve uma redução na sua bancada de oito para cinco e tem um conjunto de fatores que têm que ser analisados e melhor trabalhados. Houve uma diminuição na votação nominal do PT. Era uma coligação proporcional difícil. Candidatos com muito potencial de votos. Temos que avaliar com os candidatos, com os vereadores as razões disso.

Qual a avaliação que se pode fazer do “fenômeno” dos partidos pequenos? Um exemplo disso foi a eleição de quatro vereadores do PHS. Há uma justificativa?
Tem uma questão de tática eleitoral que permitiu isso ao PHS, que é uma coisa específica dessa eleição. O PHS conseguiu montar uma chapa em que todos os candidatos potencialmente se achavam aptos a se eleger. Isso permitiu uma chapa competitiva e uma motivação a mais. Mas se você olhar o perfil de muitos que foram eleitos, dá pra perceber que a população teve uma relação com candidaturas mais de proximidade.

Especificamente sobre PHS, qual é a sua relação com Josemir Simões e Jairo Brito, vereadores eleitos?
No PHS não tive só relação com os candidatos que se elegeram, mas com muitos candidatos do PHS que eram de bases populares.

Mas com estes dois houve uma relação mais estreita? Um foi delegado do Orçamento Participativo e o outro possui um laço familiar com o senhor.
Não teve essa relação. Não cabe aqui o caso. O cara (Brito) começou a namorar com minha irmã após três meses de campanha. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Jairo foi eleito porque ele já tinha sido o primeiro suplente na outra coligação. Fez um trabalho durante quatro anos. É um militante dedicado, todo mundo conhece Jairo na cidade, fez um trabalho bem feito. Desde o início da montagem da chapa do PHS era um dos potenciais eleitos. Ele viabilizou a campanha dele. O Josemir tem uma relação do OP. Fico muito feliz porque mostra que um cara que construiu sua militância a partir do processo da participação popular no OP, teve o reconhecimento da população.

Ele não foi indicado?
Não. Não tinha nada a ver com a Prefeitura. Ele era delegado do OP, e como militante no bairro dele mobilizou muita gente, elegeu várias obras como prioritárias. Elas foram realizadas porque ele mobilizou a população e hoje há um reconhecimento. Mostra que o OP não é aparelho de ninguém. Isso é um reconhecimento ao trabalho que foi feito.

Dentre as baixas do PT na Câmara estão duas que precisam ser destacadas. A do líder do Governo na Casa, Henrique Leite, e do líder do PT, Mozart Sales. Especula-se a possibilidade deles serem aproveitados pela Prefeitura, como secretários. Há a possibilidade de eles serem integrados ao governo?
Há. Como qualquer outro militante do PT, como qualquer outro que está no governo hoje. Todos têm a mesma chance. Não só os dois, Helvécio também, que tem trabalho na área ambiental e desenvolvimento urbano. São experiências acumuladas que a gente tem que buscar a contribuição desses companheiros. Qual a forma dessa contribuição, a gente ainda não definiu. Mas são companheiros militantes, experientes e que podem ajudar o governo.

E quais são as secretarias que devem ser compostas pelos partidos?
Já tenho uma idéia. Até porque, para conversar com os partidos, é preciso buscar perfis técnicos que estejam relacionados. Se a gente convida para uma secretaria, o partido, ao buscar essa indicação, tem que ter alguém que tenha relacionamento técnico com a área que ele vai ocupar pelos critérios que estamos estabelecendo. Às vezes esse perfil que você pensou e trabalhou com o partido não se viabiliza. E às vezes chega com outra alternativa. Por isso, não anunciamos nada e nem fechamos nada. Não quero anunciar nada, porque quando você faz isso, ou inviabiliza alguém ou fica com uma margem de manobra reduzida pra fazer uma composição final.

Para abrigar esses partidos há a possibilidade de aumentar o número de secretarias? Ou existe a possibilidade de enxugar? Reduzir?
Não estamos pensando o governo em função da composição. Estamos pensando um governo em responder os compromissos que a gente assumiu com a sociedade. Os partidos vão ter que se adaptar a esse governo. Secretaria pode ser criada se for necessário para o modelo de governo que a gente pretende implantar, mas, neste momento, talvez não seja adequado criar uma secretaria. Se criada, será dentro da mesma estrutura.

Qual é o destino de João Paulo? Qual será o caminho dele até a eleição de 2010? Está certo o Senado?
O destino de João Paulo é se consolidar como uma das principais lideranças políticas de Pernambuco. Isso (Senado) é conseqüência da consolidação de João Paulo, como eu digo, como a principal liderança popular de Pernambuco e uma das principais lideranças políticas. Agora é momento de concluir o governo dele. A gente está assumindo a Prefeitura e Eduardo Campos (PSB) está concluindo seu mandato de governador. Temos um compromisso com isso tudo para que dê certo. As circunstâncias e o processo político vão definir o papel de João Paulo.

Fernando Bezerra Coelho diz que Eduardo Campos é o primeiro nome para uma candidatura à Presidência da República de fora do PT. O que João da Costa acha?
O governador Eduardo Campos é uma liderança nacional. Presidente do PSB, e do nosso campo. Quando se cogitar lideranças com papel nacional ele vai ser sempre cogitado. É natural que Fernando Bezerra Coelho pense assim. E o governador tem esse papel, como vários outros têm também.

Qual o grande projeto de “pedra e cal” que João da Costa tem para o Recife?
Precisamos concluir algumas obras que são fundamentais para o Recife se tornar uma âncora do crescimento em Pernambuco. Vou fazer um esforço de gestão e de governo para concluir a Via Mangue no meu mandato. Acho que do ponto de vista de mobilidade urbana, uma obra fundamental.

Mas seria uma obra iniciada por João Paulo.
Não estou preocupado em ter obra de João da Costa. Estou preocupado em ter obras para a cidade do Recife. A população vai medir uma obra que mude sua qualidade de vida. Se essa obra for feita na gestão de João da Costa, ela vai identificar como alguém que deu continuidade a uma obra que deu resultado.

Folha de Pernambuco

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