domingo, 23 de novembro de 2008

Drogas não escolhem cor, crença ou classe social

Em qualquer esquina, bairro ou cidade, independentemente da idade, classe social ou sexo. As drogas ilícitas já não se resumem mais a atender determinados estereótipos e invadem o âmbito da diversidade. Ponto de encontro para as diferenças sociais, não são mais do pobre ou do rico. Elas não discriminam, são de todos e para todos. Preços diversos, usuários distintos e algo em comum: o vício que mata. Há mais de uma semana eclodiu nacionalmente mais uma notícia que não contraria as estatísticas. O ator Fábio Assunção deixou de lado a ficção para encarar de frente uma dura realidade. Um dos rostos mais conhecidos da televisão brasileira e colecionador de grandes trabalhos, o ator abandonou o papel de protagonista da atual novela das seis da Rede Globo e assumiu a condição de um usuário de cocaína que precisa de tratamento.
O caso do ator Fábio Assunção não é o único a envolver famosos. Nomes como Vera Fischer, Walter Casagrande Junior e Marcello Antonny já tiveram escancarados os envolvimentos com drogas. Em Pernambuco, o deputado estadual Pastor Cleiton Collins (PSC), eleito com quase noventa mil votos já foi usuário de cocaína, mas conseguiu se recuperar e hoje é autor do projeto Recuperando Vidas com Jesus, onde são desenvolvidos trabalhos com dependentes químicos. Mas distante dos holofotes e do glamour, não é difícil encontrar os que dividem o mesmo drama. Quase unânime, o crack é responsável pelos maiores índices de dependência química em centros de recuperação e pelos relatos mais surpreendentes dos que tentam deixar o vício, como R.C.,19. Ele começou a fumar maconha aos 9 anos de idade e aos 16 experimentou o crack, quando começou a viver um pesadelo que parecia não ter fim. “Eu já acordava fumando e não conseguia mais parar, era o dia todo, toda hora. Não podia ter dinheiro porque queimava tudo. Vendia minhas roupas, DVD, e tudo que era meu. Me juntei com uns amigos e a gente gastou R$ 700 de crack em um dia só”, contou.
O vício estimulado por uma curiosidade ainda seduz R.C., mas ele se mantém firme no distanciamento da droga. O primeiro passo foi procurar tratamento há dois meses no Centro Eulâmpio Cordeiro de Recuperação Humana, um dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da Prefeitura do Recife. “Ainda vem a vontade de usar, mas penso em tudo que passei e perdi por causa do crack, aí me afasto. Quando estou com dinheiro compro logo roupas para mim. Eu vejo meus amigos fumando perto de mim e nem me ofereço para fumar. Antes, se eu visse já ia logo pedir. Estou me recuperando e não vou desistir. Quero me profissionalizar e ter um trabalho”, disse.
Casado, com uma filha, com emprego garantido e situação financeira estável, M.A., 27, protagonizou uma história que poderia ter tido um fim trágico. Viciado em crack há seis anos, ele viveu os piores momentos de sua vida por causa da droga. “Uma vez fui ao supermercado com a minha mulher e compramos coisas para o meu filho. Antes de ir para o caixa fomos lanchar. Quando minha esposa pediu a comida eu disse que ia ver algo em outra seção. Mas fui embora, peguei um táxi até uma boca-de-fumo e comprei crack. Só voltei para casa no outro dia”, relatou.Para evitar maiores danos para si e para a família, ele começou o processo de recuperação há três meses no Recanto Paz. No início ele hesitou, mas hoje admite a necessidade do tratamento. “Hoje eu me arrependo do que fiz, mas não é fácil, é uma situação complicada. Quando entrei aqui eu não queria ficar, mas agora pretendo seguir o programa”.

Folha de Pernambuco


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