Beneficiado com a lei de anistia, o ex-governador Miguel Arraes voltou do seu exílio na Argélia no dia 16 de setembro de 1979. Sua esposa, dona Magdalena Arraes, lembra da emoção da festa realizada no bairro de Santo Amaro para recebê-lo. Segundo ela, que teve de deixar o Brasil para acompanhar o marido, levando os filhos, foi um momento em que Arraes ganhou força para retomar sua luta, interrompida em 1° de abril de 1964, quando foi deposto do Governo de Pernambuco. Embora tenham sido anos de sofrimento, em virtude da separação da família, dos amigos e do País de origem, dona Magdalena acredita que foi um período “enriquecedor”. Nessa entrevista, ela fala do exílio, do retorno ao Brasil e da convivência com o povo argelino.
A ANISTIA
Desarrumou de novo nossas cabeças. A gente não tinha perspectiva nenhuma de volta. Nossa perspectiva era educar os filhos lá (na Argélia) e eles irem se orientando para onde quisessem: fazer universidade e depois escolher seu caminho. E a gente ia ficando lá. Eu não tinha muita perspectiva de voltar um dia, não. Já ia me acomodando, organizando a vida e fazendo tudo como estava sempre fazendo, desde que chegamos lá. E foi realmente uma surpresa muito grande. E tudo teve que se acomodar: nossa cabeça e nossa bagagem. Foi uma correria muito grande, um impacto muito grande. Mas nós tivemos condições de ficar prontos para viajar e chegar aqui no dia previsto. E já tinha gente organizando a chegada, o comício de Santo Amaro. Tudo isso já estava programado.
RECEPÇÃO A ARRAES
Foi uma recepção que o povo fez extraordinária. Milhares de pessoas na praça (em Santo Amaro). Foi muito emocionante. Foi uma emoção muito grande para todos. Um impacto grande depois de 14 anos de ausência, saindo como saímos, sem ter condições de ficar. E voltar com uma recepção como a que foi feita para ele, realmente foi uma coisa que abalou muito. Mas, ao mesmo tempo, deu força para retomar a luta e continuar, como de fato ele fez.
A VOLTA
A gente nem sabe como se sente direito numa hora dessa. É uma felicidade muito grande de voltar, e, ao mesmo tempo, o choque de voltar e de deixar a vida que estava arrumada lá, para vir correndo. Porque não deu quase tempo de pensar na coisa. Tinha que sair correndo, tinha que arrumar as coisas, organizar a volta materialmente. Todo mundo ficou feliz, mas tinha o imprevisto de como seria a volta. A emoção de como seria estar de novo aqui e poder ficar, depois de estar anos longe. Tudo isso foi uma coisa que abalou muito emocionalmente.
O EXÍLIO
Era uma vida tranquila, mas o exílio é o exílio, não é? E o fato de você saber, sempre, que não pode voltar é uma coisa que pesa cotidianamente. Mas tem que viver, se adaptar, se ocupar, trabalhar, organizar tudo, orientar os filhos. E tudo isso a gente foi fazendo, durante esses anos. Graças a Deus, eles se adaptaram, razoavelmente, porque não foi fácil. Mas estudaram. Tiveram ótimo estudo na Argélia. Depois, os mais velhos foram se encaminhando para a universidade e foram para Paris e outros ficaram pelo meio da universidade. Os mais novos, de fato, uma ficou lá para terminar um curso. Depois voltou para retomar aqui. Outro já estava fazendo Medicina, tinha começado, aí veio embora e teve que fazer o vestibular aqui para recomeçar. Enfim, tudo se organizou. Lucraram (os filhos) bastante, de um modo geral.
ARGÉLIA
Teve muita coisa boa. Tivemos um convívio excelente com os argelinos, primeiramente, que nos acolheram fraternalmente. Fomos sempre muito bem recebidos e politicamente meu marido (Arraes) tinha tudo a ver com a posição deles. Foi um diálogo muito bom e muito fácil, até. E uma colaboração também, porque, na época, a Argélia era um centro político da África. Muitos países estavam lutando pela independência, particularmente os países de língua portuguesa, e todos tinham representação na Argélia. Então, nós tínhamos o convívio com angolanos, moçambicanos, quenianos. Todos estavam nessa luta. Ao mesmo tempo, tinham os portugueses que também estavam lutando, da oposição a Salazar. Isso tudo se juntou lá na Argélia e foi muito bom. Nós tínhamos um convívio de língua portuguesa e experiências bastante variadas.
30 ANOS DE ANISTIA
É uma coisa positiva. Lembrar sim, fazer festa, acho que não. A comemoração é justamente a lembrança para que não seja esquecida. Não é festa. Tem que ser lembrada na Imprensa, em reuniões...
Folha de Pernambuco
A ANISTIA
Desarrumou de novo nossas cabeças. A gente não tinha perspectiva nenhuma de volta. Nossa perspectiva era educar os filhos lá (na Argélia) e eles irem se orientando para onde quisessem: fazer universidade e depois escolher seu caminho. E a gente ia ficando lá. Eu não tinha muita perspectiva de voltar um dia, não. Já ia me acomodando, organizando a vida e fazendo tudo como estava sempre fazendo, desde que chegamos lá. E foi realmente uma surpresa muito grande. E tudo teve que se acomodar: nossa cabeça e nossa bagagem. Foi uma correria muito grande, um impacto muito grande. Mas nós tivemos condições de ficar prontos para viajar e chegar aqui no dia previsto. E já tinha gente organizando a chegada, o comício de Santo Amaro. Tudo isso já estava programado.
RECEPÇÃO A ARRAES
Foi uma recepção que o povo fez extraordinária. Milhares de pessoas na praça (em Santo Amaro). Foi muito emocionante. Foi uma emoção muito grande para todos. Um impacto grande depois de 14 anos de ausência, saindo como saímos, sem ter condições de ficar. E voltar com uma recepção como a que foi feita para ele, realmente foi uma coisa que abalou muito. Mas, ao mesmo tempo, deu força para retomar a luta e continuar, como de fato ele fez.
A VOLTA
A gente nem sabe como se sente direito numa hora dessa. É uma felicidade muito grande de voltar, e, ao mesmo tempo, o choque de voltar e de deixar a vida que estava arrumada lá, para vir correndo. Porque não deu quase tempo de pensar na coisa. Tinha que sair correndo, tinha que arrumar as coisas, organizar a volta materialmente. Todo mundo ficou feliz, mas tinha o imprevisto de como seria a volta. A emoção de como seria estar de novo aqui e poder ficar, depois de estar anos longe. Tudo isso foi uma coisa que abalou muito emocionalmente.
O EXÍLIO
Era uma vida tranquila, mas o exílio é o exílio, não é? E o fato de você saber, sempre, que não pode voltar é uma coisa que pesa cotidianamente. Mas tem que viver, se adaptar, se ocupar, trabalhar, organizar tudo, orientar os filhos. E tudo isso a gente foi fazendo, durante esses anos. Graças a Deus, eles se adaptaram, razoavelmente, porque não foi fácil. Mas estudaram. Tiveram ótimo estudo na Argélia. Depois, os mais velhos foram se encaminhando para a universidade e foram para Paris e outros ficaram pelo meio da universidade. Os mais novos, de fato, uma ficou lá para terminar um curso. Depois voltou para retomar aqui. Outro já estava fazendo Medicina, tinha começado, aí veio embora e teve que fazer o vestibular aqui para recomeçar. Enfim, tudo se organizou. Lucraram (os filhos) bastante, de um modo geral.
ARGÉLIA
Teve muita coisa boa. Tivemos um convívio excelente com os argelinos, primeiramente, que nos acolheram fraternalmente. Fomos sempre muito bem recebidos e politicamente meu marido (Arraes) tinha tudo a ver com a posição deles. Foi um diálogo muito bom e muito fácil, até. E uma colaboração também, porque, na época, a Argélia era um centro político da África. Muitos países estavam lutando pela independência, particularmente os países de língua portuguesa, e todos tinham representação na Argélia. Então, nós tínhamos o convívio com angolanos, moçambicanos, quenianos. Todos estavam nessa luta. Ao mesmo tempo, tinham os portugueses que também estavam lutando, da oposição a Salazar. Isso tudo se juntou lá na Argélia e foi muito bom. Nós tínhamos um convívio de língua portuguesa e experiências bastante variadas.
30 ANOS DE ANISTIA
É uma coisa positiva. Lembrar sim, fazer festa, acho que não. A comemoração é justamente a lembrança para que não seja esquecida. Não é festa. Tem que ser lembrada na Imprensa, em reuniões...
Folha de Pernambuco
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