segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sabores

Rafael Medeiros/Cortesia
16/08/2008
No rastro do vinho pernambucano
UVA abençoada: terroir do São Francisco ganha terreno entre público e especialistas
Vanessa Lins
Enviada especial



Regada pelo velho Chico, Petrolina tem atraído olhares curiosos, e investimentos dos grandes. Ocupa posto de destaque na produção e exportação de hortifruti, sendo um dos principais pólos desse ramo no País. É inegável. Esse pedaço de terra coroado pelo clima semi-árido pernambucano tem futuro. Um recorte mais específico revela mais. Descortina uma vocação, descoberta recentemente, para um negócio da China. É ali, no Vale do São Francisco - que inclui também a vizinha Bahia - onde se tem feito vinho de qualidade.
A região já conta com vinhos premiados. A dobradinha solo e clima é a única em território nacional que proporciona uma polêmica abundância de colheitas. Querendo, os vitivinicultores podem ter duas ao ano, enquanto que no Sul do Brasil, o calendário oficial comporta apenas uma. Tanta fertilidade tem seus aspectos positivos, mas por outro lado, pode ser um empecilho para a elaboração de vinhos mais encorpados, principalmente tintos.
Mas das vantagens que se tira desse terroir rico, a principal é, sem dúvida, a valorização dos vinhos jovens, frescos. Dos espumantes principalmente. A expressão do VSF ocorre plenamente nos vinhos agitados, que carregam muitas frutas tropicais: maracujá, goiaba, banana... Ótimos para o clima brasileiro. A Miolo e a Rio Sol fazem um trabalho de primeira nesse sentido. Ambas têm no portfólio espumantes muito bons. A segunda, inclusive, produz uma versão rosé brut muito bem aceita pelo público. Já a fazenda Ouro Verde, da Miolo, vende a linha Terranova com três versões, do brut ao suave. A empresa gaúcha tem outro diferencial: produz vinhos late harvest bastante agradáveis. Outro destaque é a nova linha da Bianchetti, conhecida pelos vinhos de mesa, que está botando no mercado vinhos orgânicos. Só pela idéia inovadora, vale experimentar os rórulos
Bom constatar que o mercado de vitivinicultura do Vale tem crescido e evoluído em qualidade. Coloca o Nordeste, em alguns rankings, em posição de igualdade com os produtos da região Sul. Desperta o interesse de instituições de pesquisa, como a Embrapa, que realiza estudos constantes com a finalidade de promover melhorias na cadeia produtiva das uvas viníferas e dar suporte às empresas instaladas. Os próprios viticultores andam bastante animados com a receptividade do terroir local e experimentam novas variedades, típicas do Velho Mundo, como Tinto Cão, Barbera e Touriga Nacional. É uma irrigação de idéias, tal qual a feita com as águas do rio São Francisco.

Ainda está por vir
Mesmo com os investimentos em tecnologia, mão-de-obra e pesquisas, de fato, o setor saiu do estágio embrionário, mas ainda precisa estar mais seguro para mostrar a cara. Precisa ser “embalado” para viagem, e atrair um outro tipo de negócio, o do turismo. Hoje, apenas uma das fazendas do circuito do VSF tem infra-estrutura para receber visitantes. A Garzieira oferece visita guiada com exibição de vídeo, visita ao parreiral e loja de fábrica.
Em fase de acabamento, a Ouro Verde (Miolo) está sendo reformada para ficar o mais parecida possível com a matriz em Bento Gonçalves. O projeto é dos bons e vai possibilitar visitas pela bela fazenda, pelo complexo de produção e envelhecimento dos vinhos, além de cursos de degustação e a compra dos vinhos em showroom caprichado. Prevista para setembro, a repaginação vai atingir também a capacidade de produção da vinícola, que será ampliada para cinco milhões de litros ao ano. Uma pena o público em geral não poder conferir de perto o trabalho das outras marcas.

Folha de Pernambuco

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